A FELICIDADE DA PÁSCOA

Há muitos lustros, levava-se mais a sério o período de quarenta dias, a Quaresma, que se encerrava na celebração cristã da ressurreição de Cristo no Domingo de Páscoa. Não havia festas, as rádios tocavam músicas sacras, havia um clima bem sóbrio e respeitoso. Bom, naquele tempo, as viúvas usavam luto absoluto, com vestidos e vestimentas pretas, ao menos as mulheres católicas mais conservadoras. Por período de um ano. Naquela época, o carnaval era basicamente formado por blocos ou cordões de rua ou em clubes. Eram eventos momescos divertidos, malucos, com mil confusões, mas, comparativamente ao que ocorre hoje, bem mais comportados, no geral, com muito confete e serpentina. Falo de um tempo em que eu ainda era garoto e residia com os pais na cidade de Encantado. Na minha alta adolescência, já começara a gandaia. Meu pai jamais foi um folião e minha mãe, que até seria, acompanhava o ritmo do marido. Todas as bobagens que cometi não tiveram, portanto, qualquer inspiração familiar. Voltando à Páscoa, quero registrar as melhores lembranças dos apetitosos ninhos que recebia junto com meus irmãos pequenos. Predominavam os ovos naturais de galinha pintados, fechados com papel celofane e recheados de amendoim açucarado, tipo pé de moleque, que sempre adorei. Além dos coelhinhos e ovos de chocolate em abundância, havia muito marzipan e pão de mel, coisa bem boa. O interessante é que não sou fã de chocolate, que como muito pouco durante o ano, mas, na Páscoa, o papo é outro. Creio que é um prazer emocional. Meu netinho Vicente vai passar mais uma Páscoa conosco em Gramado, pena que os gêmeos não poderão ir. Fico muito feliz quando vejo seu olhinho brilhar com a visita do Coelho e toda aquela movimentação à procura do ninho escondido. Lembro da infância, das minhas fantasias e sinto o calor envolvente da família. E temo que as nossas melhores tradições acabem por dissipar-se no turbilhão da modernidade.