A SOPA

É quase lendária a ojeriza dos jovens à sopa, de tanto que a tomaram na infância, sempre meio sem gracinha, já que feita para o paladar e a nutrição infantis. Confesso que custei a respeitá-la no curso da vida. Não sei se foram as noitadas frias aquecidas pelo “sopão” na casa de pais de amigos e amigas, não sei se foi a famosa canja de galinha com ovo e palmito que o finado Restaurante TREVISO servia para rebater a ressaca, nas madrugadas, lá no Mercado Público, mas a verdade é que aderi à iguaria. Muita sopa - mais especificamente, creme de ervilha, aspargo ou palmito - degustei em Gramado e ainda o faço eventualmente. A sopa de cebola em Paris é de tomar ajoelhado. Andréa, que é perita nas artes e manhas da cozinha, fez aqui umas duas ou três vezes, com a mesma qualidade, mas nunca mais, alega que esqueceu a fórmula e perdeu o jeito, mas ainda pretendo insistir. Com o Gabriel na Austrália, talvez ela arrisque, já que o piá não gosta de sopa, como a grande maioria dos de vinte e poucos anos. Lá no Tia Dulce também tinha uma bela sopa de cebola, nos idos tempos, hoje em dia estou por fora destes deleites de fim de noite. Gosto muito de creme de couve-flor, tomate, feijão, abóbora, milho ou um caldo verde português, é fácil, e nossa empregada faz bem e religiosamente aqui em casa. Às vezes é a Andréa quem prepara e fica melhor ainda. No inverno ou no verão, mas sempre mais deliciosa no clima frio. Com a indefectível pimenta, orégano e azeite extravirgem de oliva, de mínima acidez. No verão, o ar-condicionado ajuda. Também havia em Porto alegre um festejado sopão completo (puchero) no Hotel Continental, creio, no Centro da cidade, onde fui duas ou três vezes, mas o sopão mais apreciável era de um antigo Restaurante no segundo andar do Aeroporto Salgado Filho, há quase cinqüenta anos, aonde ia me deliciar algumas vezes, com a namorada (ex-mulher) e amigos. Só não curto muito sopa de feijão com massa, que Yeda também, às vezes, fazia na casa de meus pais, pois considero uma combinação inadequada. Preferia seu sopão com muita carne, legumes e pedaços de espigas de milho. Aí era demais. Canja de galinha não é o meu forte, ainda que adore os miúdos que a integram. A de capelete, eu não perdoo, é coisa bem boa e a da Yeda era imbatível, tudo feito em casa, com amor e capricho.