O TEMPO DA VOZ INTERROMPIDA
Viver é existir por pouco, ou eternizar-se por muito tempo.
Mas existem pessoas que viverão por muito tempo, quase que eternamente, ou enquanto houver na terra quem lembre através de registros, os seus legados.
Alguns, viram mártires face a sua dedicação a causas que diz respeito ao bem estar dos outros, pois se os outros estiverem bem, todos estarão.
Todavia, em algum atalho do destino, vidas terrenas são interrompidas, causadas por ambições demasiadas onde as pessoas se perdem colocando-se acima das outras, pelas custas do poder que lhe cega suas ações.
Assim, deixa de SER HUMANO, e passa ser bicho nocivo á saúde de todos ao seu redor, e transforma-se em um perigoso inimigo do Homem, e o pior: Inimigo de Deus.
Ouvi alguns disparos na rua, era noite, dia de festa dia da poesia, dia de Castro Alves, dia em que nas noites, era para se comemorar a fantasia do viver com uma poesia declamada, escrita cantada.
Os versos naquela noite se calaram e as vozes, foram substituídas por estampidos noturnos e traiçoeiros, numa premeditação, tudo estava preparado era para calar a voz de quem tanto gritava nos morros nos guetos, nas favelas e, na tribuna de onde surgiam seus discursos sinceros, mas que aos poucos incomodava quem queria lhe calar.
Seria naquela noite, após ter deixado A CASA DAS PRETAS, ela, a dona da possante voz que denunciava e que tanto incomodava alguém que não permitiria que sua voz ecoasse pelas ruas, pelos morros, pelos guetos, pela favela de onde surgira o nome daquela que gritaria em lugar do povo que não tem como gritar.
Naquela noite, ela seguiria pelo Estácio, aquele mesmo Estácio cantado por Luiz que trazia melodia até no nome.
O tempo de existência terrena, iria parar exatamente ali. Não haveria mais a preta que agora debruçava o corpo crivado pela covardia, ignorância e mandado de alguém, que não suportava a voz da preta ecoar.
Uma noite sem poesia, sem saraus, sem recitais para lembrar o criador do NAVIO NEGREIRO.
O som do ratatatá fez-se ouvi,r e entre lágrimas o povo iria se manifestar e despedir daquela que soube utilizar o grito da garganta em prol de muitos que nem ela mesma conheceria, face a tantos no Brasil inteiro.
Se alguém, quer matar-me de amor, que me mate no Estácio...
Carlos Silva