68- CRONICANDO: DOSE SECA DE CORTAR A GARGANTA: comentário sobre a morte do bebê no Amazonas...

(Quem me acompanha sabe que os meus textos possuem um misto de humor e ironia; alguns leitores amigos até comentam que essa é a minha maior marca. Mas, chegou a hora de falar sério. E, vou falar.)

Acabei de ler uma notícia de que um recém-nascido, no Amazônia, morreu. Bem, bebês morrem como tudo o que é vivo morre. São serezinhos tão frágeis. Tão pequeninos... Agora, vamos para as estatísticas. Uma estatística de 2011 diz que no Brasil morrem 96 crianças por dia. Outra pesquisa diz que 1,7 milhões de crianças morrem no mundo por ano em virtude da poluição. Outros três milhões morrem antes de nascer e entre 2000 e 2015 morreram por dia, no mundo, 7.200 recém-nascidos.

E a criança da Amazônia? Como eu já falei, morreu. Nasceu e morreu. Mas, a morte dela não tem nada a ver com os fatores ambientais que matam 1,7 milhões. Talvez, não tenha morrido mesmo, mas tenha sido morta. E quem matou? O Estado. E quando me refiro ao Estado com letra maiúscula digo: estado, municípios, união.

A criança nasceu em um hospital, a 851 km de Manaus, que não possuía as condições necessárias para atendê-la. Na reportagem, vi que o bebê tinha uma cardiopatia congênita, ou seja, problema no coração, e por isso deveria ter NASCIDO EM UM HOSPITAL QUE TIVESSE OS RECURSOS NECESSÁRIOS PARA MANTÊ-LA VIVA. Certo, nascer é garantido, mas e o viver? “Não... É que a criança tem um problema grave no coração...” SIM, E POR QUE NÃO A LEVARAM PARA UM HOSPITAL ADEQUADO, UM CENTRO DE REFERÊNCIA, RIO-SÃO PAULO?

O hospital não tinha nem incubadora! A equipe médica, ou só o médica ou enfermeiro ou alguém, teve a ideia de providenciar um balde, cortá-lo e colocar a cabeça da criança dentro para dar oxigênio. Agora, me diga se isso é ambiente de trabalho? O mínimo possível para se viver não é ofertado. Ao ver o balde, alguns podem criticar a equipe médica ou o responsável pela ação. Na verdade, isso não é mais nada que um grito de socorro. É o equipamento que eles têm. É o que o Estado dá.

Mas, como as excelências não sabem o que está acontecendo na saúde do nosso país? É simples: eles não são usuários do SUS, assim como seus filhos não usam a escola pública e nem a segurança pública. São bancados do bom e do melhor com os nossos recursos, impostos dos mais diversos. Vivem num Brasil Suiço. Já o povo, vive num subdesenvolvimento extremo e secular.

Muito me indignar ler uma notícia dessas. Espero que o MPE do Amazonas, Defensoria Pública e outros órgãos defensores do cidadão acompanhem o caso. Não dá mais! A vida da criança não será devolvida. A dor dos pais é incalculável. Lamentável.

George Itaporanga
Enviado por George Itaporanga em 15/03/2018
Reeditado em 25/11/2022
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