A VELHICE PROBLEMÁTICA
Velho, velho mesmo, definitivamente ainda não sou. Posso ou não chegar lá, é impossível prever o amanhã. Ademais, cada um envelhece de um jeito, uns mais cedo, outros mais tarde, uns em forma, outros alquebrados e praticamente batendo na porta do lado de lá. Talvez o mais importante medidor seja o funcionamento da cabeça. Ninguém está livre de acabar atravessando situação de grande dependência física e mental. Em caso assim, na idade que for, a gente pensa hoje na melhor alternativa para atravessar a contento os rigores do tempo, sem sacrifícios familiares de vulto. Tenho dúvidas se o melhor é ficar onde se está, dentro de seus domínios tradicionais, com o auxílio de quem puder contratar, ou optar por uma destas clínicas especializadas. Naturalmente que cogito aqui de situações-limite, geralmente enfrentadas no auge da velhice. Não gostaria de legar a imagem de peça de museu em decomposição. Ruim para mulher, filhos e netos e amigos. Por outro lado, não parece um caminho muito simpático para quem não aprecia a massificação (socialização, como dizem) e prefere vida reservada e individual. Não me atrevo, ainda, a escrever qualquer cláusula a respeito nas “disposições de última vontade”. Já redigi há alguns anos documento de tal jaez, mas estou mudando de ideia em alguns tópicos. Ao invés de cremação, que soube ser um tanto complicada e mais onerosa, o velho e bom enterro em cemitério ainda é o canal. Fica perto de casa e a vizinhança é bem tranqüila e silenciosa. Mas, voltando à vaca fria, para evitar precipitações e enganos, o meu pensamento se dirige a circunstâncias mais agudas, em que o sujeito está realmente muito “baleado” e com pouca interação. A pessoa doente tem de se tratar, o portador de séria limitação tem de se adaptar, não é o caso. O mal de “Alzheimer” em estágio avançado, por outro lado, seria uma importante hipótese a considerar, a meu juízo. Como se percebe, pela dificuldade de uma decisão prévia firme, o problema vai cair no colo dos familiares. Desde logo, eu os libero de constrangimentos: sempre apreciei soluções racionais e práticas e não voltarei para puxar os pés de ninguém.