A NEVE E A CAATINGA
Não,
Eu não conheço a neve.
Queria sentir seu gosto, botar a língua pra fora e deixar ela tocar, como fazem muitos, em filmes que assisto e causa em mim uma inveja.
Fico feliz pelos outros, e ao mesmo tempo, triste comigo, pois eu nunca pisei na neve.
Não senti meus pés afundando na maciez do gelo que aos poucos tornam-se areais de pó gelado e formam montes, morros e montanhas.
As estações de inverno devem ser bonita, com gente bonita toda bem agasalhada, frequentando os cafés e tomando varias bebidas quentes típicas para estas ocasiões.
Esquis, tombos, bonecos de neve, cabos fortes dos teleféricos, viseiras que mais parecem coisas de astronautas.
Não, eu não conheço a neve, mas me imagino com uma pá afastando-a da porta, fazendo caminho para Sandra e as crianças passarem rindo e felizes.
Um dia, talvez a gente consiga ir a São Joaquim (RS) (só para ter uma noção da extensão do frio) talvez em Bariloche ali pras bandas da Argentina.
Mas queria mesmo era pisar o central park, passar ali pela 81 perto do museu de historia natural, atravessar e entrar no parque.
Talvez me dê saudades do Ibirapuera.
E ao visitar o mine castelo (após ter passado pelo Shakespeare gardem) penso que possa perder-me pela grandiosidade que tem o parque.
Não, não quero ir ao central park no inverno.
Quer saber, sou mais a caatinga, a aridez sertaneja, onde meus pés estão acostumados pisar.
Ver a flor surgindo de cima da coroa(da cabeça de frade) ou da fruta que orna o mandacaru, duplicidando as cores entre o verde do caule do cacto, e sua fruta vermelha que de longe já se avista. Prefiro ficar por aqui, admirando o bananal de Canudos, ou visitando o Sitio do Tomaz, lugar onde nasceu o poeta Nininho.
Deixa eu aqui, afinal, eu tenho um sertão dentro do peito e quero continuar irrigando-o com meu suor e lágrimas de amor, de labuta e de saudades.