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                                       (imagem do Google)
 
Tua vais onde quiseres, mulher...
 
Não deveria ser obrigatório em uma sociedade democrática, o voto. Minha bisavó materna, Florinda,  estatura mediana, aparentemente uma fina flor de seda, todavia com a perspicácia de uma abelha-rainha, dando à  luz   durante vinte e três anos, dos quais foram  embalados e guiados por ela , dez Marias e sete Josés! Os demais tornaram-se querubins, serafins! A essa fortaleza não foi dado o direito de votar, embora estivesse demasiadamente ocupada com suas crias, em sua sabedoria, nem percebia esse e tantos outros direitos que a vida lhe negara.

Passam-se os anos e com eles as opressões vividas para quem é do ramo, nem boas gargalhadas podíamos dar, cumpria-se bons modos até para sorrir!  Segundo a ONG Action Aid, a violência doméstica mata cinco mulheres por hora em todo o mundo.

Os templos mudaram-se, contudo os tempos femininos andam a passos de tartaruga. Num passado não tão recente , estive em uma concessionária em Belo Horizonte, acompanhada de uma figura masculina para a compra de um carro. Já havia feito uma pesquisa sobre o carro que iria comprar, sem máxima potência, sem luxo algum, acordado com as minhas posses momentâneas. Dinheiro juntado, suado e guardado na caixinha para nada a dever.

Surge a vendedora  padronizada, sapatinhos pretos , saltos altos, terninho cinza, generosa camada de base no rosto, lencinho no pescoço e nos cumprimenta. Depois do cumprimento trivial, todos os olhares a mim foram desviados, naquele set,eu, mera  coadjuvante.
“- O senhor “ pode estar olhando” outras marcas também, preferência pelas cores metálicas?
- Vale mais a pena levar o de quatro portas…”
Confesso que se não fosse pela pesquisa de preços que havia feito antes, teria deixado o recinto. Respirei fundo, meti o bedelho na conversa,  dizendo-lhe que gostaria de olhar o Celta de duas portas, prata, sem maiores adereços. Nem se tocou ao mal que lhe causara,  caberia a vida ensinar-lhe, não a mim ! Fiquei com o meu celtinha de duas portas, pequenino,  seis anos, meu confidente, um xodó que só!

Passam-se os anos  e vejo escrito em letras garrafais, num desses nossos jornais: “ ENGENHEIRO SE NEGA A ENTRAR EM AVIÃO PILOTADO POR MULHER.”
Disse o caval(h)eiro que deveria ter sido avisado antes, porque se soubesse, não embarcaria no voo do aeroporto Confins de BH  ao aeroporto de Palmas. Betânia, a piloto, deu ordem para que ele saísse da aeronave, alegando que se ocorresse uma rajada, turbulência, ele poderia se sentir desconfortável , levando a  pânico todos os outros passageiros. Esbravejou,  esperneou, embora obedecera às ordens da comandante.

Massacres psíquicos, corporais , estupros coletivos , apedrejamento , levam afegãs, nepalesas, somalianas à morte precoce, falecem no auge de seus quarenta e cinco anos. Meninas malianas que segundo Houaiss podem ser chamadas também de malinesas , são submetidas à mutilação genital através de um processo altamente doloroso, sem falar nas iraquianas, indianas  , peruanas, paraguaias, brasileiras...

Sugeriria para as tardes incertas de  domingo a leitura simples, coloquial de “ Eu sou Malala”, de Patrícia McCormick. Há também de Annick Cojean, escritora e correspondente do jornal “Le Monde”, o temeroso “ Harém de Kadafi”, no qual tudo é covardemente, cinicamente permitido, tão qual nos salões da Capital Federal, sem igual!

 
Rosa Alves
Enviado por Rosa Alves em 03/03/2018
Reeditado em 07/08/2020
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