ESQUERDA OU DIREITA
Como já narrei muitas vezes, até minha ida a Paris, em 1967, com vinte anos, era de esquerda e militei contra o sistema, participando na vanguarda de inúmeros movimentos estudantis contra o regime de 64, principalmente como Presidente da Assembléia do Grêmio Júlio de Castilhos, Secretário do Grêmio Estudantil e Assessor do Carlos Alberto Vieira no DCE da UFRGS, dentre outras coisas. Apanhei duas vezes na rua – Praça da Alfândega - e bastante, com cassetete no lombo. Fui indiciado em Inquérito na Auditoria de Guerra, numa Comissão de Inquérito do Colégio Júlio de Castilhos (assembléia da “pauleira”), fichado no DOPS, mas nunca fui preso. Gostava do Dr. Brizola, que o meu pai conhecia e não apreciava. Quando fui para o exterior por seis meses, não estava preocupado em safar-me de qualquer conseqüência. Tinha consciência de que não cometera delito algum. Hoje penso que, se tivesse sido preso, talvez fizesse jus a indenizações e coisas do tipo. Nunca tive muito medo disso. Na minha volta, meu fichário acarretou diversos contratempos, especialmente vetos para certo curso a que fui indicado e para ocupar funções públicas para as quais me achavam capaz e apetrechado e que, tempos depois, acabei galgando por certa dose de distração. Minha ficha negativa deve existir até hoje, em algum arquivo. Não reclamei e não reclamo: faz parte e ponto final. Não me arrependo de nada, ainda que agora tenha pensamento político bem diferente. Alguns de esquerda me acham de “direita” e certos amigos de direita me acham ainda um tanto de “esquerda”. Fazer o quê? O mundo mudou, mas muitas pessoas não, apesar das evidências. Eu sempre, mal ou bem, fiz o que me parecia adequado, azar é do goleiro. Mas não sou preconceituoso, me esforço para ser um humanista, contra os extremos, a favor da liberdade e sensível às necessidades do povo. Admiro alguns intelectuais de direita e outros de esquerda. Sou democrata social e não gosto de velhas e surradas etiquetas.