FRAGMENTOS

Sou igual a todo mundo, vivo o dia de hoje, encarando o amanhã e fazendo planos. É da natureza humana e também de minha formação cultural. É importante deixar isto bem claro para dizer o que segue. A beleza do meu planeta é pujante porque se misturam personagens, situações, lembranças muito nítidas, de pessoas que já não estão entre nós, assim como ocorrências lindas do passado. Mas de um passado que não é necessariamente longínquo: pode referir-se a eventos não tão distantes e a alegrias de poucos anos atrás e que ainda eventualmente ressurgem com força. Acho que todo mundo vive o real e o mundo alternativo que não se dissolve na memória, o tempo de hoje e de ontem. Como ignorar lembranças que marcaram nosso corpo e nossa alma, sem as quais é impossível projetar o que almejamos doravante? Somos fragmentos de histórias, somos um passado que poucos recordam e um dia de hoje em pleno florescimento. Ninguém pode ser aquele robô que acorda a uma hora regular, executa tais e quais funções habituais, preenche necessidades, interage assim e assado com assemelhados e se diverte com prazeres de sempre. Nesta perspectiva, até a fruição da arte vira mero consumo estandardizado. Somos mais que isto, ainda que às vezes não pareça. Somos a memória da humanidade em expansão, a semente de um novo mundo que não conheceremos e que, possivelmente, será extraordinário, fruto de nossas conquistas, perdas, lágrimas, gargalhadas, efusões e dores.