RODA GIGANTE (inspirado no último filme de Woody Allen)
A vida é uma roda gigante. A gente roda, roda, roda, procurando encontrar alguma coisa perdida, fincada na areia… Alguma certeza afogada em baldes de cerveja. A gente procura. No caminho encontramos vidas, acenos de felicidade. Talvez, sejamos o porto de alguém. Em algum momento, incendiamos corações. Depois os sentimentos viram cinzas e entopem artérias. Pode ser que jamais encontremos consolo. Mas em uma tela de cinema adormecemos nossos sentidos ou despertamos pra vida.
A vida é uma roda gigante. Uma hora, próximos do céu, em outras, tão próximos do chão. Ao chegar perto do chão pode dar aquela vontade de pular e não seguir viagem. Ou pode ser que esqueçamos o chão e, sim, encaremos a incerteza de uma nova volta até chegarmos, outra vez, no mesmo ponto, no entanto, com um novo olhar, um novo ar, um novo vento nos cabelos. Pode ser que a gente se liberte, desperte. Pode ser.
A vida é uma roda. A gente gira, gira, gira. Assim, um dia, seremos piões de tantas descobertas. Uma alma deserta ou farta de sofisticação. Uma alma inquieta em busca de barcos à vela, novas embarcações.
Um coração sem novas pulsações, morre lentamente, como um náufrago que esqueceu de sonhar. Ou mesmo um poeta que insistiu em regar as plantas do aquário.
Pode ser que aquele bote salva-vidas não esteja no mesmo lugar. Pode ser que você nunca mais vá encontrar. Onde você se perdeu? Onde se perdeu a beleza do olhar? Qual música deixou de tocar no dial do seu coração? Havia uma novela no rádio. Havia um naufrágio. Onde você ancorou o seu barco? Você tinha escolha? Talvez, tivesse. Tantas opções. Fazer do barco um navio. Fazer da dor um barril de pólvora. Explodir metáforas, devaneios. Onde se perderam os cachos do cabelo?
A gente se encontrou na chuva. Na curva da saudade. Nos teus olhos os mágicos maremotos de outros momentos. Nada trágico, nada tão aterrador. O que antes arrebatava, agora é uma balsa a deslizar na memória. Um pensamento se salva: pula da cabeça. Cai sem redes de proteção. Espatifa-se sem remorso. Aquele troço, talvez, chamava-se paixão. No fundo, toda aquela coisa era fruto da carência. Uma transparência nunca vista. Um vestido longo de capa de revista no teu corpo sedento de emoções.
As horas contam as nossas vidas. Um tempo que não passa. Um tic-tac que martela recordações. Quanto vale esse tempo guardado nos relógios que só couberam em nossos pulsos? Quantos impulsos te puseram em prontidão, sem pestanejar, indo solta pelo ar?
Nada sei. Nada sabemos. Em algum lugar nos perdemos. Assaltados pela máfia dos sentimentos. Nosso coração lançado no meio do mar espera bandeiras de salvação. Às vezes, torcemos para que ele saiba boiar. Às vezes, queremos um afogamento, uma forma de nos matar. Mas se você se joga e se transforma, a água do mar tem que te acompanhar.
As ondas que se criam são fruto da nossa vontade. Ir, sem querer voltar. Navegar sem medo, sem pensar que não há salva-vidas. Não há. Há apenas uma roda viva. E a vida roda, roda, até responder nossas perguntas. Não todas. Algumas. As necessárias. Vez ou outra, a gente pesca essas respostas atrás das portas que nunca ousamos abrir. Porém, algumas pessoas o gostam de pescar
A vida é uma roda gigante como gigante é essa vontade de se salvar!!! Que gire, gire, gire…