A MINHA PÁTRIA
A minha pátria é o paraíso, o céu azul, o mar aberto e profundo, o olhar da moça cor de cobre, o sorriso das crianças e o vento leve e ligeiro.
A minha pátria é o embuste, o ridículo, os patéticos engravatados, o abuso, o homicídio, a insensatez, a brutalidade, o conflito armado na cidade.
A minha pátria é o seio perfeito, aconchego, beijo doce, colo, abraço quente, corpo deitado no jardim, flor de mistério, aroma de café gostoso.
A minha pátria é a maior mentira que se tem contado, o país que não tem futuro, o país das grades e dos muros, o país das cracolândias, a morte das muitas infâncias.
A minha pátria é a contradição, o sim e o não, o bonito e o feio, o certo e o errado, o direito e o dever, a falta dos dois, a preguiça e a luta, o cansaço e a perseverança, a desilusão e a esperança...
Eis o meu país, eis a minha pátria: uma colcha de retalhos, uma porção de cacos que ora se juntam, formando um espetáculo, ora se espalham, criando o caos.