"Tua Cantiga"
 
Acalmaram-se temporariamente os ânimos, desânimos, embora o cenário político após as eleições de 2014, data de quando um menino birrento das Gerais e seus ancestrais sapatearam, esbravejaram contra o resultado das urnas. Prosseguem-se nas redes sociais um duelo de dar inveja ao mais primitivo dos greco-romanos.

Jô Soares em seu programa no ano de 2016, com os olhos lacrimejados desabafou-se:
-“O Chico é um patrimônio desse país. Eu fico comovido e com vergonha. Feliz o país que tem um Chico Buarque. Um cara que deveria ser reverenciado, mas ao invés disso sai de casa com os amigos e é agredido de uma forma mesquinha.”

O autor de “Budapeste”,” Leite Derramado”, “Meu Irmão Alemão” “Chapeuzinho Amarelo” e de tantas outras obras primas ignora elegantemente as rinhas entre ideologias diversas, o Chico-cidadão, esquerdista, intelectual sorri elegantemente desta arena. Em uma dessas intolerâncias, quando saia de um bar no Rio com uns amigos foi abordado por uns jovens, no que lhe indagaram:
-E aí Chico, como está Paris?
Sarcasticamente e inteligentemente respondeu:
-Por que? Você mora em Paris?

Em 1998, quando foi homenageado pela Escola de Samba Mangueira, o cineasta Ruy Guerra disse sobre Chico Buarque:
“Chico não existe, é uma ficção - saibam.
Inventado porque necessário, vital, sem o qual o Brasil seria mais pobre, estaria mais vazio, sem semana, sem tijolo, sem desenho, sem construção.”
O Grande Teatro do Palácio das Artes de Belo Horizonte abrirá suas portas nos dias 13 a 17 de dezembro para receber os primeiros shows da nova turnê do mais recente álbum do cantor, dramaturgo, novelista, romancista, escritor, cronista, roteirista cinematográfico, Chico Buarque de Holanda. Aos 73 anos com aproximadamente quinhentas canções desvenda e retrata a alma feminina com refinamento e densa sensibilidade.

Coerente em suas convicções relacionadas ao autoritarismo, repressão, os desmandos da ditadura, suas canções encantam gerações que sequer haviam nascido quando essas foram compostas.
Reservado, olhar tímido, diz que o melhor do show é quando ele acaba, contradizendo a mineirada alvoroçada. Os ingressos esgotaram tão rápido que o artista concordou em prolongar por mais um dia o seu espetáculo.
Na capital dos bares, bons ares, burburinhos ecoam nos clubes das esquinas relacionadas à letra da música “Tua cantiga”:

-Abriram-se as cortinas, Carolinas, Catarinas, Celinas…
“(...)
Se as tuas noites não têm mais
fim
Se um desalmado te faz
chorar
Deixa cair um lenço
Que eu te alcanço
Em qualquer lugar
Quando teu coração
suplicar
Ou quando teu capricho
exigir
Largo mulher e filhos
E de joelhos
Vou te seguir”
(...)


 
                                
Rosa Alves
Enviado por Rosa Alves em 07/12/2017
Reeditado em 07/02/2021
Código do texto: T6192334
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