OS MAIS VELHOS BEBEM VINHO

No que eu vou comentar agora, há muitas exceções, obviamente, mas considero pessoas abaixo de sessenta anos como piás: acumularam experiência, podem ser mais inteligentes, modernos, atualizados, mas, no geral, ainda têm de comer muito feijão com arroz para usufruir da vista panorâmica que os velhinhos acima dos setenta ordinariamente desfrutam. A vida é assim mesmo, até o momento em que a idade começa a embotar os sentidos, mas isto já é outro papo. Não tem muito a ver com conhecimento, mas tudo a ver com lembranças e sensibilidade. Vejam bem, meu caro irmão Roberto – mais inteligente e mais preparado do que eu – não tinha nascido e eu já tinha 12 anos. Salvo se eu fosse muito atrasado, é natural que eu tenha absorvido o espírito e a ciência de uma época que ele só veio a saber muitos anos depois, à luz de notícias e interpretações, não de uma experiência pessoal e direta. Somos basicamente memória, memória, sobretudo, de fatos vividos e devidamente assimilados. A consideração histórica e cultural aos mais velhos decorre muito mais disso do que da fragilidade com que o fluxo temporal nos castiga. Como a sociedade moderna é voltada para os jovens, costuma-se esquecer seguidamente desta lição. O dia a dia revela como o arroubo da juventude sói atropelar a experiência. Sempre foi assim, ora mais ora menos, às vezes com resultados positivos, outras tantas com resultados negativos. O que desejo dizer é que, algumas vezes, consigo prever certas conseqüências de atitudes firmes e impetuosas, mas minha voz diluiu-se no espaço, transformou-se em murmúrio. Mas respeito a dinâmica dos fatos, tudo muda, ninguém é dono da verdade, velho ou moço. Assim, mais sábio é ficar no meu cantinho, sereno, bebendo meu vinho, algumas vezes apreciando filmes vistos e revistos. Que a piazada se divirta e que me ensine novas coisas!