MAIS UM LIVRO?
Muitos amigos me questionam sobre a publicação de outro livro de crônicas. Alegam, com propriedade, que tenho já amealhado um considerável estoque de textos. Realmente, já teria um livro mais alentado que os anteriores, combinando memórias e escritos diversos. Para que culminassem em obra impressa, os textos teriam de sofrer minucioso exame e revisão, além do trabalho de seleção e organização. Talvez a função toda demandasse uns dois ou três meses de empenho e dedicação. Num livro, a exigência de apuro é bem maior. Mas esta seria a parte boa. O problema seria lançá-lo ao mercado. Vejam, minha família tem tamanho médio, não trabalho mais num grande banco, em escritório profissional e nem dou mais aulas na Faculdade. Muitos contatos pessoais diluíram-se no tempo e na inatividade laboral. Não estou presente na mídia e nem me empolga a ideia. O que eu conseguiria como público? Sim, tenho muitos amigos, mas menos do que há anos, são ocupados, moram longe e, ademais, não têm obrigação de adquirir novos livros ou de comparecer a sessões de autógrafos. Quantos livros eu mandaria imprimir? Duzentos, trezentos? Se a memória não falha, vendi cerca de 240 exemplares na Livraria do Globo, por ocasião do lançamento do “Brumas de Xangri-lá”, em 1998, e vários outros na Feira do Livro, mas estive com boa antecedência em rádios, televisão, jornais; contei com o apoio decisivo de jornalistas, que nem sei se ainda atuam hoje, fiquei cerca de um mês telefonando para pessoas, paguei cartazes, enviei convites pelo correio, fiz, enfim, o diabo para abrir um pequeno caminho e, ao final, vender algo como oitocentos livros, nunca soube exatamente. Não esqueçam: num lançamento, vão casais, famílias e, geralmente, compram apenas um livro. Normal. O escritor não profissional tem de estar com muita “gana” para aventurar-se no mercado, notadamente em tempos de crise. Acho que com o “Brumas” e o “Aconteceu num Verão”, de 2005 (Plaza São Rafael e Feira), recuperei o capital investido. Ao menos, grande parte. Mas não foi fácil. Honestamente, vocês acham que vale o sacrifício?