CONHEÇA A MILENAR TOLEDO - PARTE II

O Palácio de Alcázar, também denominado Palácio Fortificado, em face da tradução do idioma árabe, está edificado em uma das colinas mais altas da cidade. Durante anos, serviu de residência oficial aos reis da Espanha. Hoje, abriga a Biblioteca de Castilla-La Mancha e o Museu do Exército espanhol.

Castilla-La Mancha é uma comunidade autônoma, formada por 919 municípios, pertencentes às províncias de Toledo, Albacete, Ciudad Real, Cuenca e Guadalajara. Toledo é a capital que, juntamente com Cuenca e Almaden foram distinguidas pela UNESCO com o título de Patrimônio Mundial da Humanidade.

O edifício do Palácio de Alcázar que contemplamos na oportunidade tem quatro torres visíveis a quilômetros de distância e é um dos pontos turísticos mais importantes de Toledo. Sua construção inicial coube aos romanos, no século III, tendo sido reformado pelos cristãos quando lhes competiram o domínio territorial e político da região. Em 1936, por ocasião da Guerra Civil Espanhola, o palácio foi parcialmente destruído pelos litigantes. O que vimos encontra-se totalmente restaurado e exposto à visitação pública.

Visitamos uma fábrica de armaduras de estilo medieval, que também confecciona espadas e facas, entre outros objetos, destacando-se as miniaturas de Dom Quixote de La Mancha e de seu escudeiro Sancho Pança. As espadas fabricadas em Toledo são famosas pela resistência física do material.

Nas filmagens das películas Highlander, Senhor dos Anéis, Gladiador e O Hobbit, as espadas toledanas foram utilizadas pelos valentes personagens. Por pouco não adquirimos um exemplar para presentear nosso genro Luiz Roberto, aficionado por armas desse tipo, para decoração de seu escritório residencial.

Sem sermos incomodados por funcionários da loja, fomos fotografados portando réplicas dessas armas milenares, em posição de ataque, ao lado de armaduras e esculturas metálicas.

Em enérgicas caminhadas por ruas calçadas de pedra, andamos com destino a vários pontos turísticos da cidade. Estivemos na Plaza del Ayuntamiento ou Praça da Prefeitura, em cujas proximidades encontram-se o Palácio Arcebispal e a exuberante Catedral Primaz de Toledo, também chamada de Catedral de Santa Maria de Toledo, edificada no local de antigos templos muçulmano e cristão, quais sejam, a Mesquita Maior e a Catedral Visigótica.

A construção da catedral foi iniciada em 1226, no reinado de Fernando III, O Santo, por solicitação de São Eugênio. A fachada principal teve início em 1418 e conta com três portas, bem elaboradas: a central, representando o Perdão; a da direita, o Juízo Final, e a da esquerda, o Inferno. Prevista, inicialmente para contemplar duas torres, conforme estilo arquitetônico de outras edificações similares, a catedral tem apenas uma torre, pois a segunda não chegou a ser construída.

Trata-se da mais magnífica das catedrais edificadas na Espanha. Igualmente às demais igrejas católicas, este fabuloso templo cristão tem a configuração de uma cruz, com a nave principal e quatro outras de menor porte nas laterais. Setecentos e cinquenta vitrais embelezam todo o interior da magnífica obra.

Quando do domínio árabe, a catedral foi transformada em mesquita e, finalmente, recuperada pelos cristãos na oportunidade da expulsão dos invasores muçulmanos. Não é por menos que se vê o estilo árabe realçado em parcela da arquitetura.

No interior da catedral poderá ser visto o túmulo do rei de Portugal, D. Sancho II, nascido em Coimbra, no dia 8 de setembro de 1209 e falecido em Toledo, Espanha, em 4 de janeiro de 1248. Ele foi rei de Portugal de 1223 a 1247, até ser deposto pelo irmão, Alfonso III. Na catedral, também está sepultada a Rainha Catarina de Lancastre e Castela, nascida em 31 de março de 1373 e falecida aos 45 anos de idade, em 2 de junho de 1418. Era filha de João de Gante, primeiro Duque de Lancastre, e de Constança de Castela, filha de Pedro I de Castela. Com a morte do pai, Catarina foi declarada herdeira do trono castelhano.

E mais se pode ver no interior da gigantesca catedral toledana: o Coro, em estilo renascentista; a Capela Maior, protegida por grade artisticamente elaborada por Villalpando e ornamentada por lindo retábulo (estrutura de pedra ou madeira, erguida na parte superior de um altar) em estilo gótico; o altar barroco, conhecido como “transparente”; outro retábulo com figuras que parecem flutuar iluminadas por uma janela aberta para projetar luz natural ao Altar Mor; a Sala Capitular (lugar onde ocorriam reuniões do clero com seus superiores), cujo teto é decorado com lindos afrescos, e as laterais exibindo retratos dos arcebispos toledanos; a Sacristia; o Tesouro da Catedral, instalado na Capela de São João, abrigando joias de grande valor artístico e histórico; a Bíblia ilustrada, de São Luís, do século XIII; o Museu, com quadros de El Greco, Goya, Van Dyck, Tristan e de outros pintores e escultores de uma época pródiga em revelar gênios de escol, como esses, portadores das maravilhas que hoje contemplamos agradecidos.

O tempo revelou-se insuficiente ao nosso propósito de visitar a Catedral Primaz de Toledo. Seria necessário muito mais, para conhecê-la como gostaríamos. Implacáveis, as horas nos roubaram o ensejo de conhecer, amiúde, tão rico, deslumbrante, cultural e sacro acervo da Catedral Primaz de Toledo.

Em seguida, conhecemos a Sinagoga de Santa Maria La Branca, do final do século XII. Toledo chegou a possuir dez sinagogas. Essa que visitamos tem cinco naves separadas por pilastras bem decoradas e, em 1411, foi convertida ao culto cristão.

Ao final de nossa visita, estivemos no Mosteiro de São João dos Reis de Toledo, da Ordem Franciscana, ou Claustro de San Juan de los Reyes. Na entrada no mosteiro encontra-se instalada vistosa tela da rainha Isabel I de Castela, nascida em 1451 e falecida em 1504.

O mosteiro de San Juan de los Reyes, um dos mais belos edifícios em estilo gótico espanhol, foi mandado construir pelos reis católicos Fernando e Isabel, mais especificamente, por iniciativa de Sua Majestade, a rainha Isabel I. À magnífica edificação, cujo início estima-se ocorrido a partir de 1476, foi atribuído estilo árabe e mudéjar, ou seja, modo do povo árabe que se manteve na Península Ibérica depois de ser conquistada pelos cristãos.

O autor do projeto arquitetônico do mosteiro foi Juan Guas. Até 1853, a autoria do projeto permaneceu anônima. Nessa época, o nome de Juan Guas revelou-se o verdadeiro autor do empreendimento, graças à descoberta de inscrição com essa referência, na capela da igreja de San Justo y Pastor de Toledo. De 1956 a 1958, detalhados estudos comprovaram que, em 1494, Juan Guas já estava à frente dos trabalhos de construção. O conjunto de galeria do pátio resultou concluído em 1504, após a morte da rainha Isabel I.

Infaustos acontecimentos ocorreram ao longo dos anos, acarretando danos ao edifício, já devidamente consagrado às atividades monásticas. Em 1808, grave incêndio danificou seriamente a galeria sul dos claustros principal e do rei. Entre os anos de 1808 e 1814, a edificação mostrava-se em estado precário de conservação, até que, em 1835, foram iniciadas as obras de restauração, definitivamente concluídas em 1954.

Até a próxima crônica. Não demorará muito. Aguarde!