ESTADOS NACIONAIS
Sempre procurei assinalar que era necessário cuidado ao se conceituar Estado. Comum era, há anos, a definição de que Estado era a Nação politicamente organizada. Não, Estado é povo, território e governo (soberano). O elemento nacional subjacente a certas concepções carregava o vício isolacionista e eventualmente desagregador do “nacionalismo”, que tanto danificou o convívio democrático dos povos, como ocorreu, em seu ápice, na Alemanha Nazista. É plenamente possível, inclusive muito positivo, o convívio de “nações” dentro de um mesmo país, tanto quanto religiões, culturas, etnias, usos e costumes. A exacerbação nacionalista ou religiosa sempre causou infortúnios, conflitos e dores. A Comunidade Européia vingou, hoje com enormes dificuldades, a partir de uma ideia importante de integração e progresso. Mas não é fácil o caminho do convívio harmônico na sociedade, pois as forças que propugnam pela separação, com certa feição supremacista, têm raízes profundas na alma do homem e na sua história, ainda que o futuro clame pela soma das diferenças. A Europa, por exemplo, fragmentou-se muito e há quem pretenda, em alguns espaços, edificar ainda mais e mais fronteiras. Fatores religiosos, culturais, étnicos e ideológicos mostraram-se incontroláveis. É um conjunto de influências que mexe bastante com sentimentos, entusiasmo, fanatismo, e não significa necessariamente avanço, melhoria ou evolução. É algo, ainda que muito maior, que guarda alguma semelhança com a multiplicação de municípios ocorrida no Brasil, nos últimos anos, e que, em muitos casos, só enfraqueceu as comunidades locais, gerando custos e vantagens para alguns poucos. A ânsia da independência pode resultar em debilitação de coletividades fortes, aumentando barreiras de separação de povos ao invés de agregá-los para uma vida mais próspera, democrática e construtiva.