A PRAÇA DO ORIENTE
Peço perdão ao caríssimo leitor pelo atraso no envio da Crônica do Dia. A impontualidade deveu-se à convalescência por que passo após recente cirurgia. Recupero-me lentamente, porém, ávido por continuar escrevendo, sabedor de que serei lido por tão atenciosa pessoa.
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A Praça do Oriente, visitada por Matilde, Márcia e por mim, em ensolarada tarde do dia 4 de julho de 2017, é um generoso espaço com jardins vicejantes e edifícios associados à beleza do Palácio Real e da Catedral de Madrid, magnificamente incrustados em suas adjacências.
A urbanização da Praça do Oriente coube à iniciativa de Dona Isabel II. Ali, entre outros significativos detalhes arquitetônicos e artísticos, vimos o monumento destinado a perpetuar a memória de Filipe IV. Trata-se de bela estátua equestre, esculpida a várias mãos, das quais merecem realce as de Pedro Tacca, Martinez Monqueta, Velázquez e Galileu Galilei. Este último calculou o centro de gravidade para manter a escultura em equilíbrio. Mas, não é só. Com o passar dos anos foram agregadas estátuas de reis espanhóis que enfeitavam os parapeitos do Palácio Real.
Os edifícios circundantes da Praça do Oriente foram construídos no século XIX, entre eles o Teatro Real, concluído em 1850. Esse templo da cultura espanhola esteve ameaçado de desmoronamento, causado por infiltração de água. Depois de idas e vindas, resultou restaurado. Hoje, abriga o Teatro de Ópera, cujos salões e equipamentos, tecnologicamente avançados, o classificam entre os maiores e mais preparados do mundo.
Nas adjacências da Praça do Oriente, encontram-se, ainda, prédios do porte do Real Mosteiro da Encarnação, do Palácio do Senado e do Palácio Real. Deste último, falarei à parte e a seguir, motivado pelo enlevo que acometeu nossos olhos, em face da gigantesca área construída, da imponência da arquitetura e da beleza singular dos ambientes internos. Um estado de êxtase nos envolveu.
Descrever o que vimos no Palácio Real, maravilhados, não me será fácil. Ficamos sobremaneira encantados com o bom gosto, a riqueza ambiental de móveis e utensílios, enfim, com todo o conjunto.
Lamento não ilustrar esta parte da narrativa com fotografias, pois fomos proibidos de efetuá-las. Espero, todavia, que minha narração seja suficiente para mostrar-lhe o quanto vimos. Repito: maravilhados!
O Palácio Real foi edificado pelos árabes, na época do domínio mourisco, no século IX, tendo sofrido modificações e ampliação quando da dominação da Espanha pelas autoridades austríacas. Em 1734, violento incêndio quase o consumiu juntamente com riquíssimos objetos de arte. Os austríacos reinantes à época contrataram o arquiteto italiano Filippo Juvara para projetar o novo palácio, nos moldes do palácio de Versalhes e no estilo do Louvre.
O arquiteto italiano Filippo Juvara morreu antes de iniciada a obra e foi substituído por seu assistente, Giovanni Battista Sachetti.
Finalmente, o Palácio Real foi edificado no local onde antes existira o Alcácer. A expressão Alcácer é de origem mourisca e significa fortaleza ou palácio fortificado. A construção foi iniciada em 1738 e somente concluída em 1764, vinte e seis anos depois.
O Palácio Real distingue-se por ser um dos mais bem mobiliados entre seus congêneres europeus. As lindas e espaçosas salas são esplendidamente decoradas, graças ao talento de renomados artistas, com ênfase para Gasparini, autor da decoração dos aposentos do rei Carlos III, do Salão do Trono e da Sala de Jantar. E que sala! O impressionante ambiente ostenta enorme mesa para mais de cem lugares.
Os tetos do palácio são belamente decorados com afrescos de autores da mais alta expressão artística. Nomeá-los, além do prazer do instante, resulta na mais eloquente homenagem a essa plêiade de gênios, para os quais a humanidade dispensa honroso respeito e digna admiração. Cito alguns: Conrrado Giaquito, Tiepolo e Mengs, Goya, Velásquez e Caravaggio.
As escadarias são revestidas de mármore e ornamentadas por belos tapetes, as paredes adornadas de significativas obras decorativas, lindos lustres de cristal pendentes nos tetos decorados com maestria, cortinas de tecidos estampados, móveis estilosos de elevado bom gosto, conjuntos de prata e de porcelana que serviram a lautas ocasiões gastronômicas, ricos objetos distribuídos por todos os cômodos reais... E muito mais.
Em nossa feliz e oportuna visita ao Palácio Real, estivemos nos seguintes ambientes: Salão do Trono, Botica Real, Sala das Armas, Salão das Colunas, Sala de Jantar, e nas dependências privativas do rei Carlos III, a saber: Saleta, Antecâmara, Quarto de Dormir e Gabinete de Trabalho... Mais vimos, embevecidos. Ih, ia esquecendo! Também estivemos na Sala da Guarda, na Antecâmara e no Quarto de Dormir da rainha Maria Cristina de Habsburgo.
Depois de alguns passeios pelo centro de Madrid, nos entregamos à rotina de qualquer turista, ou seja, abusar das máquinas fotográficas e de restaurantes que nos acalentassem a fome.
Certa noite, assistimos à dança flamenca em uma casa de show. O segundo espetáculo da noite teve início às nove horas. Durante a apresentação, fomos servidos de um jantar, cujo valor foi incluído no ingresso, previamente adquirido no Brasil, via Internet. Para ser sincero, não gostei muito. Nem do espetáculo e muito menos do que fora servido no jantar. Os dançarinos desempenharam o seu papel com cânticos e vigorosos sapateados.
No interregno dos dias passados na capital espanhola, visitamos as cidades de Toledo, Ávila e Segóvia, das quais falarei em capítulos independentes.
Não perca a leitura da próxima crônica. E de algumas mais que virão a seguir, a propósito do significativo périplo turístico que empreendemos em visita ao Arquipélago dos Açores, à Itália e à Espanha. Confesso-me agradecido por sua costumeira atenção.