SENSAÇÕES
Entendam bem, isto é relativamente comum: como minhas raízes não estão mais neste mundo: avós, pais, irmã próxima em idade ou demais parentes mais velhos com quem CONVIVA, não tenho como não sentir, algumas vezes, a sensação de estar só no mundo. O que eu quero dizer é que os filhos eu gerei e orientei, os netos são de terceira geração, os irmãos são bem mais moços e não testemunharam o dia a dia da minha idade tenra e de meus primeiros conflitos existenciais. As mulheres são amigas e de tempos não tão distantes. Ainda que não solitário – longe disto – e sem qualquer assomo de tristeza, que não é meu chão, o apoio eventualmente necessário - aquele apoio mais poderoso - está, na verdade, dentro de mim próprio. Esposa, filhos, netos, irmãos, amigos têm papel fundamental, são o encanto da vida que segue, mas é inadequado com eles dividir as aflições mais fundas que podem, volta e meia, atormentar o indivíduo. Não, por ora, não tenho nenhuma aflição, tudo vai bem, mas fico pensando que seria um tormento se tivesse de sobrecarregar alguém mais jovem a esta altura. É meu jeito de ser: filosoficamente, esta é a realidade da vida, quando ela amadurece. Até se contasse com pai e mãe seria discreto. Mas a simples presença deles seria um conforto. Às vezes, só ficar ao lado de um velho guia, de uma referência ou de um companheiro de guerra pode ser terapêutico.