Um Dia Para O Silêncio
Um Dia Para O Silêncio
A maioria dos anos é composta por trezentos e sessenta e cinco dias.
Em todos eles há uma ou mais datas comemorativas a se celebrar.
É sempre dia de um ou mais santos, de uma ou mais profissões, de um ou mais vultos, de um ou mais sentimentos, de uma ou mais condições.
Não existe, no entanto, um dia consagrado ao silêncio. Esta ilustre presença a que poucos usam dar importância.
Também, pudera! O silêncio não é nenhum santo, nenhuma profissão, nenhum vulto, nenhum sentimento, nenhuma condição!
O silêncio é uma entidade. Uma entidade sem a qual não há como se dizer que a vida transcorre em sua plenitude
.É em meio ao silêncio que descobertas são feitas, ideias são concebidas e preces são elevadas.
Foi em meio ao silêncio que se deu à luz o Universo.
Foi em reação ao silêncio que surgiu a linguagem.
Como se pode ver, razões há mais do que suficientes para que, nos calendários de todas as civilizações humanas, figure um dia dedicado ao silêncio. Esse dia, entretanto, não existe.
A humanidade é ingrata. Deve muito ao silêncio, mas, não lhe dedica um dia sequer em sua existência.
Vive-se em meio a um quotidiano barulhento, no qual tudo parece e é ensurdecedor. O espaço dispensado ao silêncio é cada vez menor nas vidas dos seres humanos. Os rumores da vida falam muito alto, não restando ao silêncio outra opção, a não ser tornar-se um sem teto.
Sem teto e sem data.
Hebane Lucácius