CONHEÇA FIRENZE. NÃO DESPERDICE A OPORTUNIDADE!
Pela terceira vez, Matilde, Márcia e eu desembarcamos em Firenze. É assim que gosto de me referir à milenar cidade italiana. Descrever visitas àquela maravilha de tempos remotos é um prazer renovado. Agrada-me sobremaneira. Nesta oportunidade, esforço-me para não desmerecer o encanto proporcionado por ela ao visitante.
Antes, faço-lhe um apelo: “Firenze, viemos revê-la! Não me oculte a beleza de suas milenares edificações, as geniais esculturas de suas obras, os singularíssimos afrescos de sua arte pictórica, nem a história de que é portadora. Conte-me tudo. Tintim por tintim. Ajude-me a relatar aspectos de sua longa trajetória e a descrever os acontecimentos guardados no mais profundo de sua memória. Estou ouvindo-lhe. Conte-me!”
A existência de Florença data do ano 59 a.C. Foi fundada por César Augusto, oportunidade em que recebeu o nome ostentado em sua certidão de nascimento, por derivação da palavra latina Florentia, que significa florescer.
Nos primórdios de sua existência, Florença cultuava uma entidade pagã. No segundo século de nossa era, São João Batista foi declarado seu padroeiro. Em 393, o bispo de Milão, Santo Ambrósio, inaugurou a primeira igreja cristã na cidade. Anos depois, o imperador Carlos Magno fundou a igreja dos Santos Apóstolos.
Com o desmantelamento do império romano, em 476, surgiram reinos fundados pelos bárbaros em antigas províncias do império decadente. Bárbaro era a denominação atribuída ao estrangeiro que pertencia à outra raça e falava língua diferente.
Novos impérios surgiram com o passar dos anos. O Bizantino, no século VI, os Longobardos, nos séculos VII e VIII, e os Francos, no século IX. Depois, veio o império fundado por Carlos Magno. Com a morte do imperador, surgiu um novo sistema, o Feudalismo, fundamentado na posse da terra concedida pelo senhor feudal. No final do século XII nasceram as comunas, sistema político e social com ênfase na área administrativa, mediante gerência da coisa pública.
Em 1252, foi cunhada a primeira moeda divisionária, o florim. No século XIII, iniciaram-se as construções de pontes e muralhas defensivas.
Embora desfrutasse de alvissareiros momentos, Florença foi assolada por guerras entre o poder do Pontífice e do Imperador. No ano 1289, os Guelfos, partidários da Igreja Católica, isto é, do Pontífice, saíram vitoriosos dos embates de que participaram. A partir daí, a República florentina adquiriu estabilidade política e seguiu o rumo do desenvolvimento econômico.
Nos idos de 1294 a 1298, as obras culturais e artísticas floresceram com o início da construção da igreja de Santa Croce, da catedral de Santa Maria del Fiore, e do Palácio da Signoria. Deles, falarei adiante.
A estabilidade econômica trouxe consigo a riqueza que resultou ostentada por privilegiadas famílias: a dos Medici, principalmente, na figura de Cosino, O Velho, a quem é devida a expansão das atividades comercial, artística e cultural.
Dois dos primeiros pontífices da história são da família Medici: Leone X, filho de Lorenzo, e Clemente VII, filho de Giuliano, irmão de Lorenzo. Cosino foi sucedido por seu primogênito, Piero, que teve por sucessor o filho, Lorenzo, denominado O Magnífico. Lorenzo reuniu em sua Corte os melhores valores da época, representados por filósofos e artistas de escol. Botticelli e Michelangelo, entre eles. Que feliz escolha!
Nessa época, também se destacaram nomes exponenciais das artes, nas figuras de Donatello, Brunelleschi e Beato Angelico, autores, respectivamente, da escultura de Davi, em bronze, da Cúpula do Duomo e dos Afrescos do Mosteiro de São Marco.
Os artistas de Florença foram influenciados pela arte bizantina, baseados na cultura do Oriente. A escola florentina, surgida sob o comando de Giotto di Bordone, desenvolveu-se revelando grandes mestres como Nicola Pisano e Michelangelo.
Florença contou com a mais eclética e admirável estirpe de personalidades do mundo das letras e das artes. Seus filhos mais ilustres são:
Duarte Alighieri, apelidado Dante, nome pelo qual se tornou conhecido e célebre, nasceu em junho de 1213 e faleceu em dezembro de 1375. Poeta e crítico literário é autor de A Comédia, título original da obra que o imortalizou. Após lê-la, de tão entusiasmado, alterou a denominação para A Divina Comédia, representando o inferno, o purgatório e o paraíso.
Leonardo Da Vinci nasceu em abril de 1452 e faleceu em maio de 1519, em Cloux, na França. Durante sua profícua existência, produziu obras que o consagraram. Entre elas, destacam-se: A Anunciação (1472); Adoração dos Magos (1481); Virgem das Rochas (1485); Dama com Arminho (1490); Homem Vitruviano (1490); Monalisa (1503); A Última Ceia (1498); A Virgem e o Menino com Santa Ana (1508) e São João Batista (1513);
Michelangelo Buonarroti veio ao mundo em março de 1475 e deixou-o em fevereiro de 1564. Viveu, portanto, 89 anos. Também de vida artística fecunda, é reconhecido por sua genialidade. É autor das seguintes obras: Crucifixo (1492); Baco (1497); Pietá (1499); Davi (1504); A Criação de Adão (1511); Afresco pintado na Capela Sistina, no Vaticano (1512); Moisés (1515); Escravo Morrendo (1516) e Juízo Final (1541).
No dia 28 de junho, estivemos na confluência da Praça São Giovanni com Praça Duomo, o Batistério, o Palácio Arcebispal, o Campanário e o Museu da Catedral. Aquele espaço místico estava lotado de turistas de todas as partes do mundo. Verdadeira Babel! Entre os brasileiros, um flamenguista exibia-se com o uniforme rubro-negro, cores que me provocam urticária. Como bom vascaíno, alvinegro de existência vitoriosa, tenho severa ojeriza às cores vermelha e preta.
Matilde, Márcia e este cronista, abusamos das máquinas fotográficas. E não poderia ser diferente. A magnifica Catedral, o Campanário e o Batistério fascinam o turista, principalmente de primeira viagem. Nós, e possivelmente outros, repetíamos aquela cena pela terceira vez.
Na Praça Duomo ou Praça da Catedral está localizada a singular obra da arquitetura florentina de épocas pretéritas – a igreja de Santa Maria del Fiori, cuja construção foi iniciada em 1296 e somente concluída em 1436, cento e quarenta anos depois.
De estilo gótico, a catedral é espaçosa, de medidas generosíssimas. A arquitetura é belíssima. Compõe-se do Museo Della'opera, do Batistério e do Campanário. Mede 150 metros de comprimento e é considerada a terceira maior igreja cristã, depois da Basílica de São Pedro, em Roma, e da de São Paulo, em Londres.
Os temas bíblicos foram introduzidos primeiramente na fachada da catedral e depois nas três portas do batistério. A da direita é obra de Andrea Pisano, possivelmente datada de meados do século XIV; compõe-se de 28 painéis contando histórias da vida de São João Batista.
As portas da esquerda e do centro foram esculpidas por Lorenzo Ghiberti; a primeira, elaborada entre 1401 e 1424, também com 28 painéis, conta histórias do Novo Testamento, enquanto a porta central, iniciada em 1425 e concluída em 1452, vinte e sete anos depois, contém dez quadrados maiores e dez outros menores, situados entre os quadrados de maior porte, conta diversas histórias bíblicas.
As esculturas constantes da porta central representam: A expulsão de Adão e Eva do Paraíso; Cain matando Abel; Batalha contra os filisteus; O rei Salomão recebendo o templo da rainha de Sabá; Moisés no Monte Sinai, com as tábuas da Lei; Episódios bíblicos envolvendo José e Josué. A porta do centro foi denominada Porta do Paraíso, atribuição conferida a Michelangelo.
Não adentramos o interior da catedral, por já tê-lo conhecido em outra oportunidade. Naquela ocasião, visitamos as sepulturas de reis, príncipes e artistas. Conhecemos os mausoléus dos Medici, a Capela dos Príncipes e, mais fascinante, a escultura inacabada de Michelangelo, La Pietá, esculpida por ele para colocá-la no próprio túmulo, ao morrer. O destino, porém, não lhe permitiu a ousadia. O genial escultor partiu para os páramos celestiais antes de concluir seu intento.
A história envolvendo a Catedral de Santa Maria del Fiori dá conta de que, em 1478, a mando do Papa Sixto IV e de membros da família Pazzi, assassinos por eles contratados tentaram matar Lorenzo, O Magnífico, e seu irmão, Giuliano de Medici. Lorenzo safou-se da morte com ajuda de amigos que o esconderam numa das sacristias da catedral. Já o seu irmão não teve a mesma sorte.
Estivemos em visita à Praça da Senhoria, onde foi executado Jerônimo Savonarola, frade dominicano que divergia da Igreja Católica. Savonarola foi queimado vivo, juntamente com dois de seus companheiros, no dia 23 de maio de 1498.
Na Praça da Senhoria encontra-se o palácio do mesmo nome, edificado no século XIV. Ali, fotografamos a Fonte de Netuno, a estátua de Hércules e Caco de Baccio, e o Pórtico dos Lanzi, construído de 1376 a 1382.
O pórtico compõe-se de três arcos e teto abobadado, sob o qual se encontram as esculturas de Perseu, exibindo suas bem definidas formas anatômicas, segurando pela mão esquerda uma cabeça decepada. Outras esculturas abrilhantam o Pórtico dos Lanzi, entre as quais, O Rapto das Sabinas, de Giambologna. Em destaque na área do pátio da Praça da Senhoria, vimos a escultura de corpo inteiro de Davi, obra de Michelangelo. Deixo de emitir considerações a respeito de sua primorosa elaboração, por que, adiante, farei nova referência a esta que foi a principal obra do consagrado escultor florentino. Aguarde!
Na Praça da Senhoria também está edificado o prédio onde Leonardo Da Vinci iniciou a pintura de La Gioconda – a famosa Monalisa, por quem sou perdidamente apaixonado. Minha esposa Matilde concorda.
Na igreja de Santa Croce ou igreja da Santa Cruz estão enterrados os corpos de destacados ícones da ciência, das letras e das artes florentinas. Foram erigidos grandes e suntuosos mausoléus, transformando a igreja em um panteão, local da morada eterna de Michelangelo, falecido em 1564, Nicolaus Machiavelli, morto em 1527, Galileu Galilei, em 1462, e Dante Alighieri, em 1375.
Aqui, faço uma paradinha para respirar. Esta parte da visita será relatada, com detalhes, em crônica posterior, a ser enviada ao dileto leitor dentro de breves dias. Aguarde!