VOLTAR NO TEMPO

Francamente, não acredito em quem diz que nunca tenha tido vontade de voltar no tempo, sendo, inclusive, que alguns vivem mais lá atrás do que no enfrentamento do dia a dia. Por razão A, B ou C, há instantes em que sentimos muita falta do regaço da mãe, do aconchego do pai, do rebuliço dos irmãos, do carinho dos avós, enfim daquele calorzinho gostoso de ninho que desfrutávamos em idade mais tenra, sem responsabilidades e dificuldades da vida adulta - que tanto nos exige e cobra, para nós mesmos e outros mais. Por maiores que tenham sido nossos incômodos naquele tempo passado – que nos atingiam de forma mais superficial -, a gente levava uma vida gostosamente dependente, resolvida, cheia de prazeres, amores, sonhos, fantasias, ilusões, cujas cobranças eram geralmente em nosso favor, para nos facilitar e descortinar vida futura. Nosso mundo era bem definido, pleno, os entes queridos presentes, confraternizando em aniversários e natais de uma existência praticamente sem grandes sobressaltos. Claro que os problemas aconteciam, como sempre, mas a natureza daquela faixa etária, a família e a própria sociedade nos poupavam. Não há quem, num ou noutro momento, não tenha sentido a força deste refluxo histórico e anímico. Às vezes, é grande a vontade fantasiosa de revisitar o passado, a nossa primeira casa, sem o peso do fardo cultural, social e moral que o tempo jogou sobre nossos ombros.