O AMOR DORME NO SOFÁ
Tive um problema bobo em um namoro meu.
A minha ex, muitas vezes, depois de um dia cansativo de trabalho, acabava dormindo no sofá da minha sala. Então, eu aproveitava aquele momento, para ficar observando o sono dela. Naquele instante, ela estava ali, indefesa, linda, para a minha simples apreciação.
Sempre gostei de poder observar a amada em seu sono profundo, porque é justamente no sono que ficamos desarmados, sem escudo, sem proteção nenhuma, entregues.
Quando amamos, são essas pequenas coisas que fazem toda a diferença. E somos felizes, por saber que estamos cuidando de algo precioso e raro. No cuidar, no zelo do olhar, mandamos longas faíscas de energia positiva, como forma de envolver a pessoa e lhe dar a calmaria de que todos nós necessitamos.
Porém, tinha uma hora que ela acordava e me via ali, parado na frente dela, e logo se ajeitava, num susto. Ela, então, passava rápido a mão no cabelo, como forma de arrumá-lo, e perguntava, de modo veemente:
- O que foi? Eu, hein? Tá fazendo o quê?
Eu sorria calmamente e dizia:
- Estava apenas te vendo dormir.
Ela:
-Mentira. Aposto que tava batendo foto. Cadê? Eu te conheço!
E não tinha foto nenhuma. Era apenas eu, parado, olhando para ela, enquanto dormia. Mas é o preço que se paga por amar demais… ou por ser o cara acostumado a zoar tudo (a sina do comediante que não me larga!). No entanto, no momento em que eu a observava dormindo, era quando também eu me encontrava com a minha humanidade perdida, porque no amor é quando nós nos sabemos mais. Muito mais do que já fomos antes.
E ela, um dia, acordou! Nós acordamos. E nunca mais um sono profundo de amor!