FAMÍLIA DE QUATRO PATAS

Tem certos debates que têm importância, na cultura e na política, mas “de modus in rebus” e não podem monopolizar atenções. Eu acho que também é interessante analisar, no planeta que habito, dentre outras coisas, a personalidade ou, se preferirem, o temperamento de meus três cachorrinhos Poodles. Bidu, com nove anos, é um cão sério, circunspecto, marido de Baby e pai de Chopinho. É impressionante a inteligência do bichinho, entende mais do que muita gente certas palavras e frases do vernáculo e, tenho certeza, vai ser gente na próxima encarnação. É muito mais ligado na Andréa, pois morava na casa dela antes de residirmos juntos. Ele veio no pacote. O segundo a chegar aqui em casa foi Chopinho, com 7 anos, único sobrevivente da ninhada fruto do congresso carnal entre Bidu e Baby, em Torres. Aliás, todos são torrenses. Ganhei no Dia dos Namorados aquela bolinha peluda, branquinha e ainda assustada. Chopinho faz jus ao nome, é bem louquinho, briga com os outros cachorros na rua se eu deixar, é estabanado, engraçado, mijão incorrigível, adora seus brinquedinhos, é fixado no pai, Bidu, que procura sempre dominar. Ele se divide afetivamente entre mim e Andrea, mas é mais meu do que dela. Baby é um capítulo à parte. A cadelinha tem catarata, é praticamente cega, com 11 anos, veio pra cá mais tarde, há uns 3 anos, no máximo. Andréa resolveu adotá-la e trazer da casa do pai em Torres – era de propriedade da secretária dele. Chegou aqui detonada, infecção nos ouvidos, pelagem horrorosa, magrinha. Já contei que ela caiu no Rio Mampituba, que passava em frente ao jardim de sua casa, e foi encontrada um ou dois dias depois, num terreno baldio. Gastei os tubos e ela se aprumou, hoje está com a mais bonita pelagem, bem gordinha, tranquila, mas a catarata é incurável. O fenômeno é que Baby se apaixonou por mim, é de uma dependência impressionante, não desgruda de maneira alguma. Quando, durante nossos passeios, desocupados vêm me pedir cigarro, têm de dar no pé ligeiro, pois os cachorrinhos não toleram intromissão no meu espaço. E nem eu.