ISSO AQUI É UMA CARTA DE AMOR
Isso aqui é uma carta de amor para quem nunca amou, mas deseja amar. Uma carta sem ressentimento ou trauma, com a calma dos inocentes que nunca traíram.
Uma carta sem feridas expostas, sem as costas marcadas por bilhetes de despedida. Uma carta sem dono que deseja apenas ser lida no fim da tarde, antes da dor que arde nos corações machucados pela fúria de quem esquece que o amor não é escravidão.
Uma carta esquecida dentro de um livro para ser lida repentinamente, sem preparações ou ansiedades destrutivas. Uma carta para olhos virgens que ainda se emocionam com emoções envelopadas.
Isso aqui é uma carta, sim, senhor. Uma carta do amor que não tive. Uma carta para o corpo em declive, antes do vôo que nos eleva ao topo da felicidade. Uma carta sem rosto nem idade (quem me dera ela pudesse ser enviada ao passado, destinada a mim, antes dos primeiros tropeços de amor).
O que essa carta revelaria se ela só falasse da beleza dos encontros, da euforia da primeira tremedeira por amor ou paixão, da vontade de estar perto de quem se ama? Será que ela despertaria o coração que sofre agora pela dor de se ver desprezado, não compreendido ou mal amado? Com certeza, essa carta seria amassada, jogada pela janela e esquecida como quem esquece da própria vida em tons acinzentados.
Essa carta não teria sentido para quem se sente ofendido por ter acreditado demais nas promessas exuberantes do amor, querendo ser apreciado. Mas, para quem ainda se permite ser levado pelas mãos das promessas amorosas, essa carta vale como o lembrete de Chaplin ao dizer: “... se amamos errado a culpa é só nossa. O amor não é culpado”. Ou como diria Renato Russo: “Quando se aprende a amar / o mundo passa a ser seu”. E quanto tempo ainda falta para que sejamos donos do mundo?
De qualquer forma, essa carta se perderá dentro de uma garrafa até ser encontrada por algum transeunte que, ao descobri-la, irá se sentir como se tivesse descoberto a pólvora. Então, que ele elabore a explosão.