Escrever como um grito necessário

Às vezes, sento e me obrigo a escrever. Então, paro e escrevo. Cravo os dentes do verbo no papel. Me descaio como linha de ideias soltas. E, na medida que tudo vai nascendo, vou me vendo, com uma curiosidade infinita.

Muitas vezes, nem sei o que vai nascer. Me permito o fluir espontâneo. E comumente vou descobrindo as imagens no instante em que brotam no papel ou na tela de um computador.

Esse escrever obrigatório quase sempre é assim. Porque tenho essa mania de acumular coisas; consumir as imagens que vejo no dia a dia. Tudo quero transformar dentro de mim. E muitas vezes me entupo de muitas coisas e não tenho tempo ou dedicação de colocá-las para fora. E essas coisas ficam me perturbando, pedindo para serem expelidas. Por isso, em vários momentos acordo com imagens ou frases inteiras na cabeça. Uma coisa de louco! Uma louca sina! Perturbação pura!

Por causa disso tudo é que o nome do meu primeiro livro eu queria pôr: “Acumulações de perturbações poéticas”. Isso com 17, 18 anos. Achava que traduzia um pouco da minha vida, dessa minha relação com as palavras, com as imagens, com tudo. Principalmente com o ofício de escrever.

O engraçado é ver o resultado de algo que me obrigo a escrever e logo em seguida dizer: “Nossa! Isso tudo estava dentro de mim”. Porque as imagens vão se criando. E você vai agindo conforme a lógica dos raciocínios poéticos que vão se estabelecendo. Digo em relação a criação de poemas mesmo. Onde isso se dá mais misteriosamente. Pelo menos para mim.

Nesse caso, é como o improviso para a cena. O jam session para os músicos. Dessa aventura toda pode pintar uma coisa legal. E o mais interessante é quando alguma dessas coisas nasce “limpinha”, como arte final. Como se ela estivesse dentro de você o tempo todo, como uma escultura pronta. É como uma imagem que li uma vez de algum escultor das antigas que dizia, ao pegar o bronze para fazer alguma escultura, que nada mais estava fazendo, a não ser libertar o que já está dentro dele – do bronze. Como se o escultor usasse as ferramentas, esculpindo o bronze, para, no final, encontrar a estátua existente dentro de um pedaço bruto. O escultor liberta o que ele acredita que já está dentro do bronze.

É isso!!! A mesma sensação.

Raul Franco
Enviado por Raul Franco em 08/09/2017
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