MORAR NO EXTERIOR

Este é apenas um depoimento pessoal, não é conselho e nem se destina a fomentar debate. Confesso que achei que seria interessante morar um ou dois anos, depois de aposentado, na Europa, voltando com certa freqüência para cá. Não seria, a rigor, tão difícil, mas é uma jornada que deixei definitivamente de lado, não me cativa, mesmo que seja alternativa interessante. Sou fácil para me adaptar. Meu filho costuma dizer que eu não sofreria na prisão, se tivesse acesso a livros e a computador, não me obrigassem a tomar sol, isolado na cela, sem que me enchessem a paciência. Claro, é brincadeira, mas dá uma noção do fenômeno. Sempre gostei de viajar, mas, hoje em dia, sem passar muito trabalho ou desconforto. Ficar no ping-pong de aeroportos, suportar o aperto e os maus tratos em aeronaves, arrumar malas, enfrentar filas e permanecer horas e horas sem fumar, requer muita preparação psicológica e entusiasmo. Desculpem a preguiça, já fui aventureiro. Continuando, é preciso dizer que o padrão de vida que a classe média leva por estas plagas, na Europa, por exemplo, é inimaginável, coisa de rico. Começa pelo pouco espaço, nada moderno, dos maiores centros urbanos, a preços astronômicos do metro quadrado. Há propriedades residenciais em Paris com 9 metros quadrados. Claro, é possível conseguir coisa bem melhor em zona razoável, mas não pensem que poderão contar facilmente com faxineiras duas vezes por semana ou mão de obra acessível para todos os pequenos serviços que os espaços residenciais estão invariavelmente a reclamar. A alimentação é de primeira, os produtos de altíssima qualidade, mas dificilmente vocês poderão encontrar uma boa cozinheira. As pessoas têm de se virar. Passar meses e meses assim pode não ser satisfatório. Não acho que a questão de preços seja muito desigual no campo alimentação e, quando é forte, a diferença de qualidade compensa. Não vou nem mencionar o quesito segurança. O transporte público na Europa é muito bom e as alternativas de entretenimento são espetaculares. Mas, tendo em conta nossos hábitos alimentares, acaba-se sentindo saudade, sobretudo eu, que não vibro tanto com frutos do mar ou aves, sou mais da boa carne de gado e do feijão preto com arroz. A televisão deles é fraca e não é um programão permanecer no aconchego do lar, com todo o conforto a que nos habituamos aqui, eventualmente confraternizando com vizinhos, amigos e parentes, sempre com os três Poodles ao redor. Os estrangeiros adoram o Brasil