Temos mais sorte do que imaginamos ter
Sábado passado minha irmã mais nova, a única irmã que eu tenho, despencou da escada e se estatelou lá embaixo, no chão do quintal. A escada tem mais ou menos uns 3 metros de altura, e ela caiu de seu último degrau. Na hora, quando ela deu o grito, eu estava na cozinha da minha casa, e no susto larguei o que fazia, nem me lembro o que, e sai correndo para socorrer. Encontrei ela lá, esticada no chão, rodeada pelas roupas recém catadas do varal, próximo a janela do meu quarto.
– Meu Deus Thais, o que aconteceu! – lhe perguntei com a voz meio chorosa.
– Eu cai da escada – ela me disse entre gemidos de dor.
– Bateu a cabeça?!
– Bati não. Mas não to conseguindo me mexer direito. Meu braço, minhas costas e minha perna estão doendo muito...
Essa conversa foi rápida, questão de minutos. Logo, no desespero, sem saber exatamente como agir, corri para pedir ajuda a minha vizinha aqui do lado. Ela tem carro, então pensei em pegar a mana, coloca-la no veículo e leva-la o mais depressa possível para o hospital. Sorte foi que a vizinha, bem mais calma do que eu,
– É melhor não mexer nela Tiago, melhor deixar ela ai, imóvel, até a ambulância chegar. Mover a pessoa depois de uma queda grave como essa, não é recomendável, pode piorar a fratura.
– Você tem razão vizinha. Então vou pegar o celular pra ligar pro SAMU.
Mais uma vez, uma cena que aconteceu questão de minutos. Corri novamente, peguei o celular, pulei a janela na volta, mas não consegui fazer a ligação, tão nervoso que estava. A vizinha ligou. Bombeiros, depois, SAMU. Uma hora depois da primeira ligação, a ambulância finalmente chegou. Primeiro o SAMU, logo em seguida, os Bombeiros. Nem preciso descrever o tanto que eu sofri com a demora, imagine você então, o sofrimento da minha irmã. Ela tem hérnia de disco sabe, e ui, que dor!
Chegamos no hospital por volta das duas e meia da tarde. As sete, após todas as injeções, radiografias e tomografias, minha irmã recebeu alta. Uma “alta” em “baixa”, pois ela ainda sentia muita dor e não conseguia fazer qualquer movimento. Tive que empurrar a maca com ela até a porta de saída. Ainda na recepção do hospital, liguei para a vizinha que havia se oferecido para nos buscar. Meia hora depois ela apareceu. Dessa vez o carro dela nos serviu.
Seis dias se passaram até o presente momento que escrevo. Ao longo desses últimos dias, desde sábado à noite, ela vem se recuperando. Do quarto dia em diante ela já conseguia andar sozinha. E hoje, hoje ela está quase novinha em folha, digo quase, porque ela ainda reclama de dores no braço e na perna...
...Mas, voltando ao início. No último sábado a desligada da minha irmã subia a escada com uma trouxa de roupa no ombro que tapava toda sua visão, e, quando estava já para entrar pra dentro de casa, se desequilibrou e caiu... Moral da história:
A vida é frágil. De repente tudo pode mudar. Somos terrivelmente vulneráveis. Temos mais sorte do que imaginamos. Anjos da guarda existem?