"Quem espera nunca alcança, mas também não cansa"
Filosofando cá com meus botões, cheguei à seguinte conclusão: ter esperança é esperar que o que eu semeio hoje, nasça no amanhã, mesmo ciente de que talvez o que plantei, não brote, ou não dê os bons frutos que sonho colher. Em outras palavras, ter fé, crer ou ter esperança que algo germine gratuitamente em meu jardim, sem eu nem se quer ter lhe jogando uma única semente, é esperançar demais...
Claro. Provavelmente alguém já deve ter filosofado isso antes de mim. Mas eu juro pela sua mãe, que eu tive essa reflexão mal elaborada que você acabou de ler, por conta própria, Tim-Tim por Tim-Tim, tudim hoje dentro do ônibus de manhã, indo pro trabalho. Aliás, dentro do segundo ônibus, porque o primeiro eu perdi. Aliás também, diga-se de passagem, perdi de pegar ele de forma vexatória, humilhante.
Todo mundo sabe que algumas das poucas alegrias de motorista de ônibus é não abrir pra você fora do ponto, mesmo que o sujeito implore, com exceção, óbvio, se no caso, você for uma mulher gostosa. Uma outra, é torcer para que você não alcance o ponto de ônibus a tempo. E para que isso de fato aconteça, ele até acelera mais o ônibus, te olhando pelo retrovisor com um sorrisinho sádico no rosto, enquanto você vai lá, correndo, dando o máximo de si, quase pondo os bofes pra fora... Enfim, hoje de manhã eu corri, corri e corri mais um pouco, e mesmo assim, não consegui alcançar o filho da mãe do primeiro ônibus. E sabe o que eu fiz depois? ... nada. Simplesmente caminhei meio que me arrastando até o ponto, humilhado e com a impressão de que estava prestes a ter uma parada cardíaco, com meu coração aceleradíssimo, sentindo ânsia de vomito, dor de cabeça bem forte e as pernas ainda bambeando. (Juro pra você que pensei que ia morrer). Mas tudo bem, morri não. “Quem espera nunca alcança”, mas as vezes quem corre atrás, também não alcança. O que vale é pelo menos tentar então? Tentar é o ...! Peguei o segundo. Coisa que eu devia ter feito desde o começo. Mas tudo bem, pois, a esperança que eu tive em chegar a tempo no ponto antes do ônibus passar, me fez pensar aquela minha citação do começo desse texto. Na hora também, já mais tranquilo e dentro do ônibus, lembrei de um trecho de Nietzsche que diz:
A esperança forte é um estimulante vital muito mais poderoso do que qualquer felicidade verdadeira. Os sofredores devem ser amparados por uma esperança, a qual não pode ser contestada por qualquer realidade, que não pode ser extinta por uma realização: uma esperança de outro mundo. (Exatamente por causa dessa capacidade, ou seja, de entreter os infelizes, a esperança era considerada pelos gregos como o mal de todos os males, como o mal pérfido por excelência: estava no fundo do poço dos males).
...E depois filosofei por conta própria mesmo. Chegando a uma conclusão final de que, no dia seguinte, era melhor sair de casa um pouco mais cedo. Pois, quem semeia uns minutos adiantado, corre o risco de colher um ônibus pego na hora certa, mesmo ciente de que ele possa atrasar ou quebrar no meio do caminho, ou...
“Eu não queria estar sentado esperando, mas eu
não vou correr pra sofrer antes” (frase de Giovane Bonifácio).