CABEÇA DE POBRE

Jamais julguei qualquer indivíduo pelo tamanho de suas posses, até por que já vi muitos altos e baixos na vida. O sujeito, ontem, era o tal, hoje está abaixo do rabo do cachorro e vice-versa. Isto tudo, portanto, é uma grande besteira, coisa de pobre ou de novos ricos, dando vazão a recalques e fantasias. Já estive em espaços magníficos, em eventos de grande envergadura, aqui e no exterior, como também já frequentei ambientes despojadíssimos, de onde saí encantado por múltiplas razões. Claro, conforto é bacana, mas dispenso cristais, prataria e eunucos me abanando, quando estou à vontade e atendido dentro de padrões básicos de recepção. Não fosse assim, só frequentaria hotéis cinco estrelas em viagens, o que não consta do meu currículo. Festa sofisticada é muito boa, mas nada melhor do que regressar, depois, para o quentinho do lar, mesmo que despido do esplendor dos ambientes de alta qualidade visitados. Infelizmente, os desatinos culturais da modernidade estimulam torneios de melhor carro, melhor casa, melhor bairro, vestido mais chique e outras excentricidades que ameaçam relações, acalentam sonhos impossíveis, pesadelos ou desastres econômicos. Há quem viva muito bem, mas o vizinho ganha na loto, dá um desfalque ou conquista algo muito bom: o complexo de pobre se aguça e a criatura fica insatisfeita, amargurada. O verdadeiro pobre é superior, não falo daquele muito carente. Aqui vale o déficit cultural dos que não souberam assimilar valores, apesar da pose, inteligentes ou não. Quem ontem bajulava Bernie Madoff, Eike Batista, Sérgio Cabral, eventualmente Joesley, tem de bajular agora seus advogados. Ou tocarem suas vidas, como a maioria. Portanto, pobre mesmo pouco tem a ver com esta cabecinha de inesgotável quero mais.