"O FRACASSO SUBIU-LHE À CABEÇA"

Falava, já faz algum tempo, com meu filho ao telefone, tarde da noite como sói acontecer, e, lá pelas tantas, ficamos relembrando algumas tentativas amorosas minhas - depois de separado e ele já adolescente - especialmente nos períodos de veraneio. Claro, as lembranças mais vivas e marcantes foram de algumas investidas que tive a ousadia de realizar e que redundaram em fracassos. Aí, comentei que pouco importavam para mim os insucessos, mas me orgulhava das minhas iniciativas. Não lamentava os fracassos amorosos. Ele então arrematou: “É, os fracassos afetivos a gente não lamenta, porque não trouxeram problemas. Tu podes lamentar são os teus sucessos”. Rimos muito da grande verdade, livre de pensões alimentícias, desavenças e caroços habituais das relações entre homem e mulher. Aí, lembramos de uma frase que conhecido político e comentarista esportivo certa vez lançou a respeito de técnico de futebol cujo time vinha na descendente e ele sempre tranqüilo e otimista, rechaçando críticas: “O fracasso subiu-lhe à cabeça”. A partir deste pensamento tão sutil quanto profundo é que se pode entender por qual razão certas pessoas que te deveriam alguma consideração te ignoram: é a “vaidade” do constrangimento pelo que elas imaginam que te deveriam retribuir, mas não podem ou não querem. Esta espécie de vaidade, vergonha ou negação egoísta também sobe à cabeça daqueles de “poucas luzes”, por força de pretensão e competitividade, uma loucura. O fracasso – seja lá o que signifique – frequentemente sobe mesmo à cabeça de algumas pessoas. Reconhecer débitos ou erros é difícil, pois existe muita sede de sangue e o vampirismo social é um fato, mas ter personalidade é mais importante e os "famintos" ou "sedentos" que se danem! Mas, não custa lembrar, que, eventualmente, quando a gente perde, na verdade, a gente ganha. Não sou tão humilde, mas minhas maiores conquistas foram quando agi como pessoa comum, ajudando a carregar a cruz. E certas derrotas, afirmo, revelaram-se como altamente vantajosas mais tarde. Aquele gostinho ruim foi inevitável, mas para quem foi criado tomando Emulsão de Scott ou Óleo de Rícino de Bacalhau diariamente, tira-se de letra.