Ouvindo a conversa alheia
O trotskista da sala não fala em outra coisa a não ser assuntos que envolvam sua “militância”, dentro e fora do partido. Não importando o assunto, ele sempre enfia um tema “político” no meio da conversa, e sai em defesa de alguma causa, em prol dos desfavorecidas da nossa sociedade; operários, estrangeiros, Gays, mulheres, pretos...
As causas que ele defende quase sempre são justas, mas o que lhe falta quase sempre também, é um pouco de bom senso, de tato, time. Convenhamos que, mesmo estando bem intencionado, sendo justos alguns dos motivos de seu militantismo, isso não lhe dá razão de ser um chato de galocha o tempo todo. Provável que até na hora do sexo, o marxismo trotskista dele venha à tona, ai! O que aliais me fez lembrar agora de um poema, “Sexo em moscou”, do Mano Melo, que é bem a cara dele:
Quando comecei a passear meus dedos/ pela sua Marighelazinha já ficando molhada/ ela teve medo e recuou na resistência:/-Stalin! Stalin! / mas depois deu uma olhada/ viu um Sputnik pronto a entrar em orbita/ exclamou feliz da vida:/ - Que vara! Que vara! [O poema continua]
O pior é que, se não bastasse o trotskismo em tempo integral do cara, sempre que estou falando com alguém, lá está ele, com aquele orelhão em pé, tentando a todo custo, ouvir a minha conversa. O rosto virado pra frente, o nariz apontado em riste para a lousa, mas o olhos de soslaio e ouvidos feito radar, atentos à procura de novas informações. E eu não sei o que tem de tão interessante em mim, no que falo, para esse sujeitinho estar sempre me espreitando...
Oh vovozinha, que olhos grandes você tem!
São para te enxergar melhor, minha menina!
Oh vovozinha, que orelhas compridas você tem!
São para te ouvir melhor, queridinha!
Será que ele pensa que é da KGB ou algo parecido? Será que ninguém avisou pra ele que o muro caiu? (Pena que não em cima dele).
- Seu capitalista fascista homofóbico machista racista xenofóbico dos infernos!
- Calma cara, eu só queria que você me devolvesse a minha caneta...