O VINAGRE E O BOM VINHO
Acabei de assistir, no programa do PEDRO BIAL, a uma longa entrevista com a cantora ANITA. Ela em 24 anos, está fazendo sucesso internacional e canta um gênero musical de que não gosto e nem desgosto. Sou um tanto indiferente a sua arte, pelas óbvias diferenças. Mas fiquei impressionado com a inteligência, o foco e a garra da guria, que veio das entranhas da favela, pegava 5 ônibus para cumprir estágio, quando bem jovem, e demonstrou noções de estratégia empresarial e artística invejáveis. Foi muito convincente na defesa do FUNK e da gente vileira. Tantos babacas da classe média urbana desperdiçando o esforço dos pais, sem rumo definido, deslumbrados com o máximo prazer que podem atingir, contrastam dramaticamente com o enorme esforço de gente humilde, sem requintes educacionais ou recursos, que consegue abrir espaço num mundo adverso. Alegria por aplaudir os que vencem ou venceram, tristeza por observar, no outro extremo, o egoísmo, a mediocridade, o vazio, a falta de metas e ideais de boa parte de jovens mais abonados e sortudos. A sociedade de consumo foi terrível para os “cabeças fracas”, pais ou filhos: uma legião de inexpressivos está surgindo, os “meia-boca”, como dizem, que tendem a eleger representantes sem grande qualidade, desafiando a sociedade melhor, que os mais aguerridos tentam ou tentarão construir. Aplausos para a menina ANITA e para outros tantos que sejam ou são vinho da mesma pipa. Lamento para os avinagrados, que, de um modo ou de outro, colaboramos para gerar, infelizmente.