DITADURA JAMAIS

Venho de família, num determinado sentido político-ideológico, conservadora. Fui, desde cedo, talvez por insubordinação filial, simpatizante da esquerda, a ponto de me envolver em movimentos fortes de contestação, professando idéias socialistas. Mas a vida, com suas exigências e caprichos, foi paulatinamente me envolvendo com o “status quo”. Início profissional, casamento, filhos, sociedade de consumo em marcha acelerada, desencantos vários, acabaram pautando meu campo de ação e fiquei junto a parentes e vários amigos. Formei-me em 1970, casei-me em 71 e meu primogênito nasceu em 73. Não me “rendi” intimamente a nenhuma ordem de poder, mas, sim, ao mundo real que me cercava, com suas demandas e minhas tradições de berço. Não abandonei idéias fundamentalmente progressistas e o voto em quem representava minhas crenças mais acalentadas, a despeito das inevitáveis concessões por amizades ou circunstâncias que me diziam de perto, o que é normal. Não renego opções e responsabilidades: seria hipócrita escrever apenas para agradar. Cometi inúmeros erros, é óbvio, fiz escolhas equivocadas, pensei mais em mim e família, concordo. Tendo amigos à direita e à esquerda, durmo tranqüilo por jamais havê-los tratado injustamente, com desconsideração, em qualquer sentido. Não guardo mágoa de ninguém. Acreditando-me politicamente de centro, sem partido, tenho restrições ao capitalismo desenfreado e aposto na solidariedade social. Abomino a desordem, a lei dos dois pesos e duas medidas, o desrespeito às liberdades e à Constituição. Sou legalista e contra a violência social ou estatal. De tudo quanto observei e vivi, declaro: a Democracia é defeituosa, sem dúvida, mas ditadura jamais!