A Dor Mais Contundente
E foi naquele dia, em que eu andava displicente observando
Os detalhes da vida, nas paragens do meu caminho num dia
Lindo, em que a tarde nublava a cidade. E no céu, o semblante
meigo de uma ternura infinda, a suscitar a saudade, que não
Se sabe de que, nem de quem. Minha alma enternecida, me
Fazia refletir sobre as coisas da vida. Meu filho de nove
Meses, lindo de olhos azuis e brilhantes, em meus braços,
Sorrindo tocando as flores do caminho e alí éramos só nós
dois. (o pai, não merece comentário) eu tinha sido espancada
E andava fugida. Ia andando a passos lentos, ouvindo o chiar
Dos meus calçados, como quem vinha de tão longe... E
Vinha, das brenhas, das matas e agora alí, naquela cidade
Tão distante, no meio de um povo estranho, de face dura,
Olhar frio e altivo, tão diferente da minha tribo. Pensamentos
Rebuscava histórias, vividas, lembranças esparzidas, no
Tempo e na poeira das estradas. Poeira vermelha do meu
Sertão, que desenhava imagens no espaço, ao longo do
Caminho por onde eu seguia rumo ao meu destino. E ali,
Naquele momento, eu estava tão alheia ao que se passava
Ao meu redor. Ali sozinha,
No meio de um mundo, tão estranho para mim, havia ido com
O esposo de quem eu estava fugindo, então apareceu
Àquela mulher, que se sproximou de mim e me viu chorando.
Ela me disse tantas coisas bonitas! Foi tão educada,
Amável, me abraçou chorou comigo, se comoveu com minha
História, pois falei algumas coisas para ela, que demostrou
Tanto carinho, senti um amor materno vindo da sua parte
Ela então abraçou meu filho, segurou-o, em seus braços,
Beijando-o e exclamando: Como ele é lindo! Eu vou lhe ajudar
Voce, merece a minha solidariedade e entrou num carro que
Tinha vidros escuraos fechando a porta. E foi-se embora. E
Essa foi a dor mais contundente, foi como um tiro no peito,
Na alma mente e coração. Eu, que já estava sozinha e devastada
Em terra estranha, não poderia se quer, acreditar que aquela
Mulher, aparentemente tão boazinha, havia levado meu filho,
Não, ela deve ter ido buscar ajuda para mim, mas porque levara
O meu filho? Por uns segundos, ainda não entendia. O que
Estava acontencendo até que a certeza abateu-me com
Gigantesca punhalada. E desbravei mundos que eu não
Conhecia, me derramei em lágrimas, lutei em andanças,
Orações, loucuras, não parava, de andar, de chorar, de correr
atrás de ajuda, se eu parasse por algum momento, era
Como se o mundo parasse e ninguem procurasse o meu filho.
Foi guerra, foi campanha, foi clamor, eu não me alimentava
Porque não sabia se ele havia se alimentado, Ou morrido.
Passei dias nessa angustia e por fim desmaiei e fui internada
Acordei no hospital e não tive paciência para esperar o soro
Terminar e fugi, ia andando por uma calçada quando ouvi
Pela TV a notícia de que me filho havia sido encontrado, a
Sequestradora havia comprado passagem para são paulo e
De lá, ia para Erexim, Rio grande do Sul, eu estava em Brasília
Rnfim, levaram-me até a delegacia onde ela ja se encontrava
Com o meu bebê, que ao me ver, deu aquele chorinho
De bebê que estava com muita saudade da mãe. Ele estava
No colo da sequestradora, que foi logo dizendo: Nunca
Imaginei que aquela mulherzinha tão indefesa que eu vi, fosse
Capaz de me me enquadrar. Em silêncio recebi meu filho e o nosso
Abraço, foi longo... Ele quietinho, bem encostadinho
Em meu peito, acalmando o meu coração e certamente o
Dele, estávamos nos curando da nossa dor. A sequestradora
Me pediu perdão e eu a perdoei, mas a justiça foi Feita
Kainha Brito
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