EM DEFESA DA DIVERSIDADE

Manter bom conceito sempre foi relativamente difícil, notadamente na modernidade. Claro, o conceito social não tem todo este peso, mais importante é o conceito familiar e junto aos amigos. Mas é preciso equilíbrio na crítica. Se a pessoa é quieta, retraída, reflexiva, muitos a consideram estranha, complicada. Se é expansiva, abusada. Se o sujeito trabalha muito, ganha dinheiro e continua na lida, é fominha, ganancioso, não sabe curtir a vida. Se deixa de trabalhar, se aposenta e busca aproveitar o que pode, é preguiçoso, acomodado. Se tem problemas na relação e separa-se, é inconfiável, inconstante; se vai levando a coisa, sem atitude, é covarde ou fraco, não tem perspectiva. Se é professor ou instrutor rigoroso, é um chato; se liberal, um folgado. Se tem posição política, um comprometido; se é adepto do livre pensar, alienado. Se o sujeito tem pendor literário e escreve na internet, é aventureiro, sem a auréola que enfeita a cabeça iluminada do intelectual. Se aborda questões pessoais - como aqueles que escrevem autobiografias – expõe-se indevidamente. Se caseiro, é sem graça, domesticado; se rueiro, inquieto, gastador, sem rumo certo. Se não demonstra amor nas relações pessoais, é indiferente, desinteressado e afasta; se faz o tipo derramado, onipresente, é sufocante, espaçoso. E por aí vai. Quero fazer a defesa de todos os tipos, sem distinção, ressalvando os raríssimos casos patológicos ou extremados. Os críticos, categoria em que também me incluo, precisam meditar bastante: devagar com o andor, que o santo é de barro. Afinal, atuar no palco e assumir o personagem é uma coisa, dar pitaco no júri, outra.