NÃO DESEJO NOVIDADES
Pode ser um pouquinho difícil compreender exatamente o estilo de cada pessoa. É preciso também que se levem em conta as diferenças de idade, de objetivos, de esquemas de vida que cada um articula e desenvolve ao longo do tempo. Aos 40, por exemplo, eu enfrentava ou usufruía de certas situações que hoje descarto completamente. Sou gremista até a medula, mas só compareci à Arena para votar, nunca fui a jogo, sou saudosista do Olímpico e, se o time começa a calçar salto alto, nem dou bola para os jogos que disputa, em protesto e por desilusão. Já fui bem mais engajado. Recentemente, um amigo, por circunstâncias que não vêm ao caso, convidou-me para um jantar sofisticado - que me seria gratuito - no Sheraton, com altas autoridades e nosso chamado “grand monde”. Declinei, fugi da raia, não é meu chão; nunca me pareceu grande coisa; hoje em dia, é bucha mesmo, desconforto, sacrifício. Já recebi críticas por me excluir, mas, sinceramente, não faço a menor questão de conhecer novas pessoas ou de frequentar determinados meios que não se relacionam com minha história de vida, a realidade em que vivo ou com as metas que destaco no horizonte. Fico com saudade dos meus filmes, livros, internet, mulher, filhos, netos, passeios com os cachorrinhos, da minha cadeira ou do sofá. Exagero um pouco, mas nem tanto. Falei há poucos dias para a mulher que o Luciano Hulk estava ensaiando movimentos para ser candidato a Presidente da República. Citei casos, inclusive aqui do Estado, em que determinadas pessoas pareciam articular-se para iniciar na política como candidatos a Governador do Estado. Ela, seriamente, então, quis saber por que eu não me candidatava a Governador, quase caí da cadeira. Só há pouco tempo descobri que “sumiram” com o casaco do meu melhor terno. Confesso que tentei usar esta desculpa para não ir ao mencionado jantar, mas me disseram que pouca gente anda de fatiota e gravata nos espaços da modernidade. Lembrei que, há quase 14 anos, fui de terno e gravata na mais badalada casa de tangos de Buenos Aires, SEÑOR TANGO: me senti um “colono”, um alienígena, todo mundo de calça jeans, tênis ou sapato bem esportivo. Sou bastante despojado, mas achei tal nível de informalidade o fim da picada, incompatível com a liturgia da nobre programação, mas fui eu que fiquei com o mico preto, já naquele tempo e naquele país tão mais mais tradicional. Não desejo novidades, mas, com insistência, posso ceder alguma coisa.