VIAGEM À COLÔMBIA VII

Confirmo o dito popular de que “nem tudo são flores”. Foi o que constatamos em duas ocasiões de nossos muitos passeios. O primeiro refere-se à visita à Playa Blanca, lugar indicado como excepcional para horas de agradável lazer. Seria a oportunidade de mergulharmos em águas caribenhas, pisarmos as margens do mar lindamente colorido de um azul deslumbrante, emoldurado do branco das ondas ao se desfazerem de sua incansável trajetória.

Alugamos uma van e fizemos o demorado percurso. Em lá chegando, constatamos uma inverdade, digna de “um conto do vigário”. O local era desprovido de mínima estrutura. Não havia bares, restaurantes, banheiros, nada. A multidão compunha-se de pessoas nativas, expostas ao sol forte, perambulando por lugares sujos, depósitos de lixo, moscas esvoaçando sobre as comidas à venda em barracas de lonas...

Segundo disseram, a certa distância dali um resort oferecia as condições que nos foram negadas, por falta de informação. Mas, chegar lá não daria certo naquele instante, pela dificuldade de acesso e sem a reserva prévia e indispensável. Ainda tentamos visitar outro lugar, um resort que nos negou o ingresso às suas instalações, mesmo nos identificando como brasileiros de boa cepa, confirmados pelas identificações de nossa procedência e status social. Nada. Voltamos ao hotel, decepcionados.

A segunda frustração ocorreu quando da visita ao vulcão Totumo, de localização tão distante quanto Playa Blanca. Ali, não vimos um vulcão e sim um arremedo do que seria uma elevação cônica na crosta terrestre. Pareceu-nos um monte de argila escura, em forma de cone, no interior do qual a lama preta é utilizada mediante mergulho para restaurar os tecidos da pele.

Nada me convence de que esse “vulcão artesanal” não tenha sido produzido pelos habitantes do lugar que lucram com a venda de banhos de lama e de massagens ditas curativas e rejuvenescedoras.

Felizes foram alguns amigos que renunciaram ao frustrado passeio. Eu não me dei bem. Recebi caloroso abraço de uma amiga, enlameada dos pés à cabeça, ao sair do falso vulcão. Ela o fez feliz da vida por sentir-se rejuvenescida ao banhar-se na lama preta do Totumo. Não guardo mágoas dessa amiga, a quem prezo sobremaneira.

O dia 13 de janeiro de 2017 foi o último de nossa estada em Cartagena. Aproveitamos as horas restantes para nova visita à parte antiga da cidade. Andamos bastante pelas vias urbanas de remotas recordações, visitamos locais interessantes, a exemplo de um hotel de luxo, denominado Charleston Santa Teresa, nas dependências do qual adquirimos ingressos para determinado concerto musical a realizar-se à noite em um dos muitos teatros da cidade.

Depois do almoço em chique restaurante situado na Praça de San Pedro Claver, visitamos a igreja que ostenta o nome do santo, uma edificação que faz jus a arquitetura dos templos católicos de antigamente. No altar mor da igreja, encontram-se expostos os restos mortais de Pedro Claver, de quem falarei pormenorizadamente a seguir:

O escritor Horácio Botero, na introdução de seus comentários a respeito da vida e do papel missionário de Pedro Claver, diz: "Não é possível entender a vida e a obra de San Pedro Claver sem falar da conquista espanhola, do ambiente que reinava na América colonial e, sobretudo, do infame comércio de escravos entre a África e a América, praticado por europeus cristãos, durante quatro séculos. Nesse ambiente aparece a figura do primeiro missionário do século XVII, um sacerdote sério, trabalhador e humilde, chamado Pedro Claver, que a si mesmo denominou-se escravo dos escravos negros para sempre.

Aos trinta anos de idade, Pedro Claver zarpou de Sevilla a bordo de navio integrante de uma armada composta por três galeões, comandada pelo capitão Jerónimo de Portugal Y Córdoba, desembarcando em Cartagena dois meses depois.

Os negros vindos da África, precisamente do Senegal, Guiné, Serra Leoa, Angola, Congo e Sudão chegavam a Cartagena aos milhares. Ao desembarcarem, eram instalados em barracas até rápida recuperação física dos desgastes sofridos pelo desconforto da viagem inglória. Em seguida, seguiam para os pontos de venda.

O missionário Pedro Claver dedicou-se aos escravos com amor fraterno e piedoso. Batizou-lhes, em nome de Cristo, e deu-lhes denominações cristãs. Padre Pedro chegou a batizar mais de 300 mil negros africanos.

O bom religioso dedicava-se a cuidar dos prisioneiros e condenados por delitos civis e contra a fé católica, especializando-se na atenção aos enfermos cativos. No Hospital São Lázaro e na periferia da cidade cuidava dos leprosos. Seus colaboradores diziam não aguentar o fedor dos pacientes, lavados até quatro vezes por dia.

O padre Pedro Claver foi acometido do que hoje chamamos Mal de Parkinson e morreu depois de muito sofrimento e desprezo. Cuidado por um escravo jovem e mal intencionado foi por ele maltratado sem nunca acusá-lo dos maus tratos e da ingratidão que sofrera. O padre Pedro Claver, hoje, San Pedro Claver, faleceu no dia 8 de setembro de 1654. Foi canonizado pelo Papa Leão XIII, em 15 de janeiro de 1888.

Reproduzo palavras do autor do livro San Pedro Claver – O Servidor dos Escravos, Horácio Botero: “Uma frase do Papa Leão XIII vale por tudo o que se podia dizer de Pedro Claver”.

Vejamos, então, o que disse Sua Santidade, o Papa Leão XIII: "Depois da vida de Cristo, nenhuma me tem comovido tão profundamente como a do grande apóstolo San Pedro Claver".

Ao final da tarde do último dia de estada em Cartagena, andamos em carruagens puxadas a cavalo pelas centenárias ruas da cidade, contemplando antigas edificações situadas entre as muralhas impregnadas de história. De muita história! Tantas, que não me foi possível contá-las como gostaria, limitando-me ao pouco do que lhe narrei.

Fomos ver o pôr do sol em uma elevação nas muralhas, denominada El Baluarte de San Francisco Javier. A vista é maravilhosa. Dali, víamos o trânsito fluir às margens do mar ingente.

Inúmeros turistas bebericavam uma cervejinha gelada. A maioria não dava descanso às máquinas fotográficas e aos celulares, a fim de registrar o belo pôr do sol, que, aos poucos, findava-se se escondendo no horizonte, como se estivesse próximo a mergulhar no oceano.

Chegamos à capital do Panamá às 15 horas do dia 14 de janeiro. Ficamos hospedados no Hotel Hilton, um cinco estrelas bem localizado. Minutos depois de resolvidos os trâmites relativos aos registros do hotel, alugamos uma van e fomos conhecer a cidade, detendo-nos em um shopping, muito espaçoso, onde visitamos lojas e efetuamos pequenas compras. Eu, por exemplo, adquiri um legítimo chapéu Panamá e duas camisas do modelo guayabera.

À noite desse dia 14, jantamos no Las Tinajas Restaurante, local da realização de pequeno show de música e danças típicas do Caribe. No dia seguinte, conhecemos o extraordinário Canal do Panamá, do qual lhe falarei adiante.

Agora, lhe direi o seguinte: A cidade do Panamá foi fundada em 15 de agosto de 1519, pelo conquistador espanhol Pedro Arias Dávila. É uma das mais antigas capitais da América, superando, em idade, a fundação de Washington, Cidade do México e Bogotá. Foi elevada à categoria de cidade por decreto de Carlos V, da Espanha, em 15 de setembro de 1521.

Grandes incêndios a perseguiram ao longo dos anos, alguns propositais, como os promovidos por piratas saqueadores. Em 1539, 1563, 1644 e 1671, foi parcialmente destruída por esses eventos criminosos ou não. O de 1671 teve como autor o pirata Henry Morgan, enquanto o de 1644, igualmente proposital, destruiu edificações civis e até a catedral dedicada à Virgem da Assunção.

Recuperada, a cidade evoluiu por sua importância estratégica, chegando a possuir, na época, centenas de moradias, conventos e templos religiosos, revelando-se de grande importância para os conquistadores espanhóis no transporte do ouro e da prata pilhados de suas colônias nas Américas.

A capital, também denominada Panamá, é conhecida como o cruzamento do mundo, centro financeiro, econômico e cultural do país, com uma população de 880 mil habitantes, constituída de índios e europeus.

A população do Panamá é de 1.272.691 habitantes. O PIB per capita ultrapassa os 16.000 dólares americanos, um dos maiores entre as capitais da América Central. Superior ao do Brasil, com meros 15.000 dólares, apurados em 2016.

O PIB per capita brasileiro, atualmente, talvez seja menor ainda, considerando as dificuldades econômicas e financeiras que assolam o país, cuja recessão é a maior desde a década de 1930.

Também, com a roubalheira desavergonhada, capitaneada por políticos de todos os matizes, e a herança maldita deixada pelos petistas ao longo de treze anos de perniciosa administração, não se poderia esperar menos.

Estamos quase chegando ao fim da jornada descritiva à Colômbia e ao Panamá. Com este, foram sete capítulos que receberam de você, meu bom leitor, a atenção que este escrevinhador necessita para divulgar os textos de sua modesta produção literária. No próximo tomo, concluirei os comentários feitos à cidade do Panamá e, como corolário desta narrativa, falarei a respeito da extraordinária obra do Canal do Panamá. Hasta luego!