LIDANDO COM O ÓCIO
Em primeiro lugar, é preciso esclarecer que ócio não é somente aquele estado de bem-aventurança que o indivíduo alcança quando deixa de trabalhar. Existe ócio no tempo de trabalho, por menor que seja, e existe trabalho, em sentido amplo, no período da aposentadoria plena. Quem comete aposentadoria e continua na labuta, não vive em estado de ócio. Quem vive no estado de ócio, mas preenche seu tempo com muitas atividades e compromissos, não desfruta dos encantos do ócio. Quem se aposenta muito cedo, pode sofrer com a inatividade e, se não se preparou convenientemente, pode padecer de limitações materiais a que não estava habituado. Então, em princípio, não recomendo a aposentadoria precoce e acho que os europeus estão mais corretos, neste aspecto. Há os que nunca se aposentam, porque amam o que fazem ou pelo fato de pretenderem elevar mais e mais seu patamar econômico. De outra banda, existem os que nunca trabalharam: uns vivem abaixo do que poderiam, outros encaram diferentemente a vida, e há tipos raros como o falecido Jorginho Guinle, de família milionária - proprietária, inclusive, do Copacabana Palace, no Rio de Janeiro. Cada um com seu carma, interesses, temperamentos distintos, nada a criticar. O importante é que você descubra corretamente “qual é o seu pastel”. Mas, voltando à essência, é necessário valorizar, aproveitar e fazer render o que se chama vulgarmente de “vagabundagem”, mas que eu prefiro qualificar como “boa vida”. Se “boa vida” for somente um rótulo e provocar, na verdade, angústia, desconforto, depressão, volte ao trabalho, por favor, faça uma viagem longa ao Afeganistão, aprenda a dançar, a cozinhar, a bordar ou, em último caso, entre num Partido Político. Mas, cá pra nós, o ócio é bom demais.