ESCRITORES

Nunca me defini como escritor, salvo como amador, em homenagem ao gosto de escrever. O verdadeiro escritor tem muito trabalho e cuidado com seus textos, eu me espraio, deito e rolo, sem grandes responsabilidades. O escritor carrega a angústia do texto perfeito, eu carrego apenas o desconforto de não publicar, ainda que, geralmente, com cuidado. Independentemente de méritos literários, pois, se estes fossem assaz expressivos, talvez grandes editoras me assediariam, o que nunca aconteceu. Isto não me incomoda e nem tenho certeza de que tal processo seja relativamente comum. De qualquer modo, quando escrevo, produzo subtextos e procuro bem medir o peso das palavras. Nada é tão gratuito como pode parecer. Não fora assim, nem escritor amador poderia ser, já que muita gente escreve e transmite bem as suas ideias. Por outro lado, é preciso assinalar – e a abundância das publicações às vezes prejudica – que o leitor também é participante deste panorama interativo. A ele incumbe ler nas entrelinhas, captando o dito e o não dito. Divergências interpretativas são comuns, mas não é possível beber vinho, quando a garrafa só contém água. São, enfim, pensamentos que me ocorrem nesta madrugada ventosa de fim de março.