VIDA MODERNA, QUE PENA!

Vejo antigas fotos de família, muita gente reunida em casas relativamente simples, com boa comida à vontade, sem sofisticação, vizinhos, amigos, cachorro e papagaio. A prioridade era o convívio, geralmente amplo e sem muita frescura. O que acontece hoje, para os que possuem um pouco mais de recursos, é o interesse de estar num paraíso para curtir a vida, espaços privilegiados, em grupinhos de afinidade, que não envolvem necessariamente familiares, amigos antigos e parceiros tradicionais. É a turma da academia, do condomínio mais refinado, eventualmente do trabalho, do esporte e coisas do gênero. Quem tá fora não entra, quem tá dentro não sai. São pequenos círculos sociais formados a partir de um novo padrão de amizade, conveniência e objetivos, mesmo quando as relações são genuínas. Não se pode julgar, porque é uma decorrência dos tempos modernos. Cidades muradas e protegidas como em outras eras, autodefesa, sociedades fechadas. Enfim, solidariedade “intra muros”. Uma pena. Não se pode mais naturalmente sonhar com cadeiras na calçada e confraternização de vizinhança nas ruas, como no passado, mas o encastelamento medieval é retrocesso civilizatório, a rigor. A vida clubística é interessante, temporariamente diverte, ocupa o tempo, seleciona, protege, mas, no fundo, separa pessoas, limita, ilude e não me parece tão espontânea e edificativa como se propaga. Nem seleciona tanto assim. Mas é a poderosa tendência, paciência. Fotos antigas provocam esta visão crítica do novo mundo. Só mesmo no interior para recuperar conceitos e vivências de famílias grandes e amigos de uma vida inteira. E olhe lá.