INFLUÊNCIA DOS PAIS NA PROFISSÃO DOS FILHOS

Meu pai gostaria que eu fosse Promotor de Justiça. Ele achava o júri uma coisa muito bonita. É preciso explicar que, na época, antes da Carta Constitucional de 1988, o Promotor de Justiça tinha no júri, possivelmente, sua mais esplendorosa vitrina. Apesar de médico, e bom médico clínico, o velho acabou picado pela “mosca azul” e seguiu carreira política, tendo exercido mandato parlamentar estadual durante bom período. Ele foi também ministro-substituto do extinto Tribunal de Contas do Município de Porto Alegre, além de outras funções. No fundo, porém, gostaria de ter feito Direito e queria transferir aos filhos as suas fantasias e expectativas. Eu achava interessante a carreira do Parquet, mas não para as minhas características e temperamento. E nem remunerava muito bem. Aliás, nunca curti Direito Penal, o que já inviabilizaria, por si só, qualquer pretensão mais séria na área. Quanto à Tribuna, bem, aí a conversa era outra, pois sempre me dei bem nos palanques. Mas ser Promotor de Justiça era precipuamente ser craque em Direito Penal. Segui a orientação paterna para ser Advogado, ao invés de fazer jornalismo, filosofia ou letras, mas preferi uma trajetória jurídica diferente. No fundo, no fundo, creio que tanto ele como minha mãe, por tabela, devem ter achado muito erráticos e aventureiros os caminhos que percorri, pois quando meu filho tomou posse como Promotor de Justiça, minha mãe comentou, para meu relativo espanto, que era o que esperavam que tivesse ocorrido comigo. Bem assim, na lata, logo quando chegou ao evento comemorativo que realizamos em nossa casa na Vila Assunção. Respondi-lhe que delegara a tarefa a quem tinha vocação para bem exercer o mister e continuei a beber o meu uísque. Sombra. Soube, mais ou menos, o que era um Promotor de Justiça, quando ainda era piá, em Encantado, e meu velho pai relacionava-se com Sérgio da Costa Franco e Alceu Ortiz, não recordo de outros. Mais tarde, conheci meu grande amigo Augusto Borges Berthier e, através dele, fiz boas relações com Mondercil e Lauro Guimarães - que fora Presidente da Cia. União de Seguros Gerais - da qual fui, por dois anos e meio, Diretor Administrativo, anos mais tarde. O interessante é que, indicado pela OAB - Professor Universitário que era – fui contratado para examinar os candidatos na matéria de Direito Constitucional no XXXVII (1993/1994) para o concurso de ingresso ao Ministério Público Estadual do Rio Grande do Sul, na Gestão do Procurador-Geral Voltaire e do Corregedor Otaviano, sendo Thums o Secretário-Geral do Concurso. Turma boa, companheiros dedicados e competentes, tarefa difícil, delicada. Luzes. A luz mais brilhante, no entanto, surgiu pouco tempo depois com meu filho, já “estagiando”, na etapa final, para ser Juiz de Direito, sendo aprovado simultânea e definitivamente para o MPE. Aconselhei-o a optar por esta senda. Para os velhos pais ofereci, ainda, de lambuja, minha filha como Assessora Jurídica concursada do MPE, pouco tempo depois. É pra ninguém reclamar. Acho que fui coerente e construtivo e preservei minhas características e anseios. “Se chorei ou se sofri, o importante é que emoções eu vivi.” Tive de aproveitar este fecho do cara que me deu um autógrafo num fim de tarde, na SACC, em Capão da Canoa, lá por 1967.