O combinado não sai caro

O menino com aquela cara feia dele, tornou a bater no meu portão numa manhã dessas. Aquele mesmo menino de quem falei certa vez, o que comprou a minha Bikelete. Sim, ele acabou comprando ela em suaves prestações e mais um tablet, que a princípio entrou na negociação por penhora, mas que no fim, fizemos novo acordo e o tablet agora me pertence. Aliás, o bendito tablet foi o motivo para ele ter voltado ao meu portão, e durante alguns dias da semana, ter me chamado chamado chamado e eu não ter lhe atendido, até que, vencido por sua insistência...

“E ai Tiago, beleza”

“Beleza. O que manda?”

“Então... você ainda tá com o tablet?”

“To não, já vendi”

“Ah, que pena. Beleza então, falou”

“Falou”

E lá se foi ele com a cara feia dele, rua a cima. Para ser sincero (mesmo tendo mentido), fiquei aliviado em saber que a razão de suas persistentes visitas eram a respeito do tablete e não, como eu havia suposto, algum problema com a motinha. Não que ele não tenha fodido com o motor da bicha em pouco menos de um mês após eu ter lhe vendido, abastecendo ela apenas com gasolina e ignorando a necessidade de se colocar também o óleo. Ele me disse que que gastou 300 paus no conserto. Bem, por essa eu não me senti culpado, eu havia avisado sobre o óleo... Agora quanto ao tablet, apesar de quase nunca me sentir confortável ao mentir, o certo é que, “o combinado não sai caro”.