NO TEMPO DA BRILHANTINA

Acabo de publicar no FACEBOOK, como LEMBRANÇAS DE MEIO SÉCULO, uma foto minha, aos vinte anos, no navio Enrico C, partindo para a Europa, no início de junho de 1967. Já contei em livro e aqui a epopeia de um tempo em que conhecer Rio de Janeiro era o máximo para a gente. Aliás, só conheci o Rio quando o navio, partindo do Porto de Santos, ali atracou para fazer escala e receber novos passageiros. Não fui muito além da Praça Mauá, mas tive uma visão privilegiada da Baía de Guanabara. Passei creio que dois longos dias no Porto de Santos, aguardando a partida. Duro, parei no “bas fond”, tipo nossa Voluntários da Pátria. Meu quarto era um tabique, com abertura embaixo e encima e durante a noite tive de aguentar a briga de um cafetão com prostituta, ou coisa do gênero, com ameaças de facada, gritos e palavrões. Durante o café da manhã. Que fui tomar num barzinho fuleiro de dar pena, presenciei uma tentativa de suicídio de um homem alterado, que falava alto e colocava algo como raticida no copo de cerveja ou refrigerante, sei lá, e bebericava, até que, felizmente, chegou a polícia. Confesso que minha única preocupação era não entrar em rolo e perder a tão sonhada viagem. Hoje, fico impressionado com o fato de ter saído de uma festa de casamento às 4 da manhã, ir para casa, arrumar as malas, e, depois, pegar um ônibus para São Paulo, às seis e pouco da matina, outro, logo na chegada, para Santos, passar por todo essa perrengue e, ao final, suportar horas a fio numa fila monstra para embarcar num navio em que, sendo da terceira classe, ocuparia uma minúscula cabine com mais cinco pessoas, banheiro coletivo. O extraordinário é que eu achava tudo isto o máximo e estava muito feliz.