Amizades

Não é preciso buscar nos abissos da memória, lembranças das mais queridas no que diz respeito às amizades que tivemos ao longo de nossas vidas, isto porque, as mesmas estão presentes tanto na realidade presente dos amigos atuais, quanto na bruma invisível da saudade no mais profundo do nosso âmago.

Ainda que distantes, as amizades que eu tive o prazer e o privilégio de ter, eu as sinto como se me trouxessem lenitivos e irradiassem harmonia e esperanças das mais promissoras como bênçãos divinais.

Recordo-me com indizível nostalgia, da grande maioria dos meus amigos de infância, da adolescência e de outros que acabaram se tornando para mim, amigos verdadeiros e inesquecíveis.

Quantas saudades dos primórdios da minha infância, quando eu brincava com meus amigos no quintal da minha casa, sob o doce frescor das sombras das árvores ou nas calçadas desenhando e redesenhando rabiscos com tijolos de construção, regidos por uma inocência encantadora, dificilmente vista em nossos dias atuais.

As lembranças dos amigos são imortais. Meus pensamentos voejam ainda aos primeiros madrigais, às antigas brincadeiras dançantes na adolescência, as quais aconteciam até mesmo em casas residenciais nas belas tardes de domingo ou na prata dos luares, em que nossos olhares de jovens rapazes se encantavam com a beleza das senhoritas e seus delicados gingados que faziam fremir os corações ao som de singelas músicas da Jovem Guarda de tantas e tão belas recordações.

São inúmeros os exemplos que comprovam o altruístico sentimento de amizade que eu tive o prazer de vivenciar, entre os quais, cito um fato interessante: um amigo meu, já falecido, conseguiu um emprego para mim numa grande empresa, através de um seu padrinho, que, posteriormente, passou a ser o meu chefe imediato. Até aí, apesar da solidariedade, não há nada que mereça maior atenção. Acontece, porém, que eu não havia solicitado nada a esse amigo. Portanto, foi um ato cabal de consideração e amizade, pois na ocasião eu necessitava mesmo de um emprego.

Numa outra ocasião, quando eu possuía um barzinho, o país viveu uma crise econômica nunca vista. A inflação se avultava e não se encontrava carne nos supermercados. Esse produto era de fundamental importância para mim, que vendia uns tipos de bolinhos de carnes deliciosos e os vendia em abundância. Sabedor da minha necessidade, um amigo meu que também era meu cliente e viajava muito como repórter de uma emissora televisiva, conseguiu vários quilos de carne e me trouxe para que eu pudesse dar continuidade ao meu trabalho e satisfazer os clientes. O fato maior de comprovação de amizade, é que, além da surpresa, por mais que eu insistisse no pagamento ele se recusou a receber qualquer quantia de imediato, deixando a meu critério posterior retribuição de gentileza.

O que mais marca as amizades é justamente isso: o fato dos amigos desejarem apenas a nossa felicidade, sem visar recompensas. Emprestam-nos o ombro afável nas adversidades e estão sempre presentes com palavras de esperança e otimismo, desejando-nos sempre o melhor.

Enfim, analogamente à brisa que nos alisa, os amigos regam as nossas almas, tocando-as, intensamente, num incomensurável enlevo espiritual.

As amizades, quando presentes, são ninhos aconchegantes e refrigério que acalma a alma; e quando distantes, pelos ocasos da vida, transmutam-se em centelhas de espiritualidade, contínuas irradiações de bênçãos, as quais chamamos saudade.

Antenor Rosalino
Enviado por Antenor Rosalino em 14/01/2017
Código do texto: T5881816
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