FEMINICÍDIO
Uma verdadeira ode ao feminicídio, com inegável pano de fundo misógino, foi o crime de Campinas em que o indivíduo, pai, separado, de 46 anos, matou 12 pessoas que comemoravam o Ano Novo na casa da ex, inclusive o próprio filho. Coisa de cinema. Li as cartas que ele enviou aos amigos e a uma dita namoradinha. É impressionante o desprezo abertamente expresso com relação às “vadias”, mães que, supostamente, incitam os filhos contra os pais. No caso, o sujeito – que acabou com a própria vida – era acusado de abusar sexualmente do filho. Não dá para opinar sobre a veracidade disto ou daquilo, longe dos fatos. Não importa. O que merece ser ressaltado é o texto das referidas cartas: ódio assassino às mulheres, “às mães vadias”, que motivam seus filhos contra os genitores. E que morram também todos os que estiverem à volta. O cara não era um vagabundo qualquer, drogado de rua ou louco de hospício (onde ficaria muito mais adequado), mas um técnico de laboratório, que levou vida comum até os 46 anos de idade, constituindo família e, portanto, teoricamente, mais do que “maduro” e responsável socialmente. Sim, o mundo é louco, existem mães horrendas e, sobretudo, pais horripilantes. Infelizmente, a humanidade tem ainda muito a evoluir e é difícil lidar com os transtornos mentais. Mas este episódio mostra, além disto tudo, uma cultura de baixa valorização da mulher e da supremacia do macho. Como dizia um cara já de certa idade, numa audiência judicial, que submetia a filha adolescente a seus caprichos sexuais: “Afinal, a filha é minha”. Olho vivo e repressão exemplar sempre. A loucura seguidamente está mais próxima do que a gente imagina.