Terror Matutino
Penso que em certos momentos as pessoas devem me achar um pouco problemático, talvez lunático, mas a verdade é que sempre tenho a visita incômoda da minha amiga depressão, e quando ela chega não tem pra ninguém, ela toma conta da área. Os meus pensamentos, a minha mente, o meu coração tudo é visitado por ela.
Nesses momentos de profunda melancolia, gosto de recorrer principalmente à escrita, é quando costumo distrair e ao mesmo tempo espantar um pouco essa visita tão incômoda da tristeza que assola o meu ser.
Aqui lendo alguns textos na internet, deparei-me com um belo texto de Drummond, Elegia 1938, sei que esse texto tem uma conotação principalmente política, nesse ano, assim como no nosso ano corrente, o país passava por uma grave crise social e política, que um ano mais tarde viria culminar com a Segunda Guerra Mundial.
Mas mesmo assim, tomei a liberdade de pegar emprestado uma estrofe desse poema que é justamente como me sinto em relação a essa melancolia que tanto assedia o meu ser.
A estrofe é a seguinte: ‘Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer. Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras’.
Geralmente as noites são mais amenas em relação a depressão, tristeza e melancolia. A forma como me sinto nos horários noturnos, se assemelha como Drummond descreve nessa estrofe. É uma sensação que com o chegar da noite, os problemas se esvairão. Outro fato que torna a noite mais confortável é saber que chegando a hora do sono, os problemas serão cessados, deixarão de serem assustadores pelo menos por um certo momento.
Ao iniciar-se o dia, é como se os problemas todos voltassem à tona. O sistema mundano torna-se assustador, e de repente a falta de graça, do brilho, da alegria, da coragem, de segurança, enchem o meu ser. Em certos momentos, o despertar pra mim é como se fosse um dragão que sai pelo mundo devorando a tudo e a todos com suas enormes labaredas de fogo.
Me sinto pequenino diante dessa máquina tão terrível que se chama Mundo. Talvez seja estranho para muitos, de repente nem entenderão o que estou falando, mas essa é a pura verdade como tenho me sentido há alguns anos.
Espero não ter assustado nenhum leitor, compartilhando os meus medos e as inquietações que tomam conta do meu pequenino ser.