Utopia
E eu que apenas sonho. Mas, não um sonho parado de que não ousou sair da cama e julga que este, é meramente uma metáfora de encantamento. Não. Meu sonho tem o pé na luta, no cotidiano das dores, dissabores e contradições. E são tantos, tantas... Incalculáveis trincheiras a serem enfrentadas por essa minha alma sonhadora. Todos os dias há um corpo tombado na rua, com nomes diferentes para expressar uma mesma verdade: Bala perdida, para não dizer extermínio da pobreza. Crime passional para ocultar o machismo que impera secularmente em nossas vidas de mulheres que ousam ser. Crime sexual parece mais suave que estupro. Só não é suavizada a culpa que recai em letras GRAÚDAS e destacadas sobre as vítimas. “Não bastasse, ainda tem um “viadinho” e uma “sapatão” sangrando na capa do Jornal vítimas de “sensibilidade religiosa das pessoas” para evitar o título de homofobia. Mal de sonhador de luta é sentir dor e indignação por tudo que beira, cheira e transborda injustiça. Talvez por isso me doa tanto cada morte indígena nas trincheiras de uma resistência que já ultrapassou os 500 anos e pouca ou quase nada mudou para melhor. E nem citarei aqui com profundidade como me dilacera a alma as estátuas de lama vítimas da ganância que levou o nome de ACIDENTE. Mas, sem dúvida meu maior sonho, luta , desafio e vontade é encontrar gente de verdade capaz de se incomodar, sangrar, lutar sem perder a poesia da vida.