VELHO MORAIS

Na crônica de hoje, evocarei a lembrança de um personagem que fez parte da minha infância e também de um pedaço da minha adolescência e que, vez por outra, recordo, movido pela saudade. Talvez, na busca vã de um consolo para a alma que o passar das horas, por não possuir vida pulsante, jamais entenderá.

Velho Morais é o nome do personagem desta crônica. Ele era um senhor alto, de longas barbas, que vivia numa cabana feita de panos esfarrapados e suas panelas de fazer comida eram latas que viviam penduradas. Ele vivia catando pontas de cigarros pelos becos e ruas de São Luís do Maranhão.

Por diversas vezes, eu, quando ia ao centro da cidade com meu pai ou minha mãe, sempre o via perambulando descalço em andrajos, com o rosto de uma tristeza que dava dó! Eu, na minha cabeça de infante, não entendia porque uma pessoa andava como Velho Morais andava! Na verdade, jamais fiquei sabendo qual o verdadeiro nome Dele. Certamente, havia o sobrenome “Morais”. Ademais, os (as) que o conheciam só o chamavam de “Velho Morais”.

Outro lugar que eu, praticamente, o via todos os dias, era quando eu ia para o “campinho” - nome de um campo pequeno que ficava no bairro do Diamante. A cabana onde Ele morava ficava, justamente, localizada no campinho. E pode-se imaginar que a bola sempre ia bater na cabana Dele.

Tinha dia que Ele nem ligava, mas em compensação, tinha dia que Ele virava uma fera. E éramos obrigados, a dar no pé. Se bem que nunca ouvir falar que Ele tenha agredido alguém. Talvez, a sua reação era só para espantar a molecada que o estavam perturbando.

Ele, Velho Morais, tinha a fisionomia de Fiódor Dostoievski, escritor russo. Só na aparência, mas Ele, pelo que me consta, nunca escrevera uma linha.

Mas, enfim, há pessoas que entram para a história de nossa vida, independente, do que façam em suas vidas. E Velho Morais foi uma dessas pessoas que recordo com carinho, com saudade.

Hoje em dia, por exemplo, muitas pessoas vivem nas ruas das cidades, seja por um motivo ou outro, ou até mesmo por opção particular. E essas pessoas que vejo pelas ruas me fazem lembrar Velho Morais. Velho Morais - como a maioria de sua geração -, já se foi desta vida (pois, a vida é feita de geração). E eu, como um ser convicto da existência de Deus, tenho esperança que hoje aonde Velho Morais, habita, é em tudo melhor do que esse mundo de coisas passageiras que Ele, um dia, deu o ar de sua graça.

Laudate Dominum!

Autor: A.Lima

Mariana, MG, 23 de outubro de 2016.

A Lima
Enviado por A Lima em 26/10/2016
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