Quando a música se vai
Um dia um menino, franzino, pequeno, triste, calado, sonhou com o seu mundo encantado, belo, feliz... viu-se grande, forte, corajoso, esperançoso... e era feliz!
E esse menino brincou nas ruas, jogou bola nos campinhos, nadou nos clubes, correu nas praças, brincou de peão, andou de bicicleta na casa de seus primos... aprendeu a dirigir na casa de seus primos... cresceu com suas primas, e padrinhos, na grande fazenda da vida...
E um dia sentiu que precisava estudar mais, e mais, e mais, para ser alguém na vida.
E isso ele fez. E viveu anos, e anos, e anos a fio debruçado sobre uma mesa velha de madeira que era o seu parapeito... o seu claustro e seu regozijo. A sua esperança...
E sua mãe...
Encontrou o amor. Antes, a paixão. As paixões. Aquelas que marcam, e que machucam! Mas idealizou-se em um ideal. Que se foi. Que deixou ir-se.
Mas a vida continuou, estudou e reviveu outro mundo, e neste mundo debruçou-se, e engajou-se, e vieram frutos... mas a dor não passava. E os problemas aumentavam. Fez seu patrimônio, que era o seu sossego. Mas um dia... a vida disse ‘não!’.
E ele se perdeu.
Daí em diante, mundos divididos, coração dilacerado, amores estremecidos, lares esfacelados. Mais ou menos esfacelados que já estavam, ninguém jamais saberá... nem aquele menino...
Que agora está só.
Vivendo o seu mundo de adulto, embriagando-se meio a lágrimas, meio a incertezas, meio ao medo...
E o futuro desse menino... ninguém sabe. Ninguém saberá!
Os desejos se foram. As vontades se passaram. A tristeza se acumula. O trabalho reconforta. E sua mãe sofre junto...
O que era para ter sido na verdade? Onde o seu mundo se perdeu? Agora, depois do recomeço machucado? Ou lá atrás, na decisão, talvez, errada... Mudou sua vida. Mudou de vida. Seu nome é o mesmo, de outros, não mais... sua face está sofrida. Sua tristeza, escancarada. Nasceu só, e vai-se, um dia, assim... como deve ser.
Como será?
E as músicas que o entristeciam, e as músicas que o alegravam... nem estas... já se ouvem mais!
Porque elas se foram. Com a sua vida. Fica o silêncio. O silêncio da dor.
Quando se estragam mundos! Quem tem este direito??
Será que um dia... um dia sequer... este menino voltará como aos seus tempos de infância, de brincadeiras, de inocência...
Será que um dia vai poder sorrir de novo? Sem medo, sem pesar, sem culpas pelas desventuras proporcionadas?
Será que um dia... voltará a ser feliz?