VIAGEM AO PERU IV

Posso continuar a descrição da viagem ao Peru, caro leitor? Com sua anuência, eis o que tenho a lhe contar: Fomos a Ollantaytambo, um dos complexos mais monumentais do império inca. Situa-se a 2.792 metros acima do nível do mar, distante 60 quilômetros ao norte de Cusco, no Vale Sagrado, perto de Machu Picchu. É a única cidade da era inca ainda habitada, onde vivem descendentes da nobreza cusquenha.

A nomenclatura Ollantaytambo advém de duas palavras: Ollanta, nome de um soldado que se destacou ao casar com uma princesa inca, e tambo, que significa lugar de descanso.

No apogeu da civilização inca, Ollantaytambo concentrava grande número de serviçais e de qualificados funcionários destinados a servir o palácio real em suas variadas atividades.

A região foi um lugar importante para os incas, que os abastecia de alimentos e de plumagens de aves exóticas destinadas à confecção das vestimentas reais. As roupas coloridas ainda são bastante usuais no Peru.

As ruínas de antigas edificações construídas de pedras de grande porte, bem trabalhadas e engenhosamente lapidadas, aguçam a curiosidade do visitante desejoso de saber como foram transportadas de tão distante. Para tais indagações não existe resposta.

Os muros erguidos em proporções gigantescas constituem a milenar fortaleza inca, na parte superior da qual se encontra o complexo mais importante, composto de várias construções, destacando-se o Templo do Sol onde se vê monumental parede erguida de pedras de grandes tamanhos, devidamente talhadas e encaixadas entre si.

Para construção de outro templo, também erguido na parte superior da fortaleza, o da Mãe Terra ou Pachamama, foram transportadas pedras do outro lado do vale. Como conseguiram tal feito também não se tem ideia.

Essas magníficas e impressionantes edificações, associadas a reminiscências arquitetônicas existentes na região, como os armazéns de produtos agrícolas erguidos a grandes altitudes, chegam a desafiar os conhecimentos da engenharia moderna. Ali, estão incólumes provando a eficiência do trabalho que dignificou o inteligente e determinado povo de uma era remota. Trata-se, pois, de reconhecido legado histórico para conhecimento da humanidade perplexa.

As ruas do vilarejo nas cercanias da fortaleza inca são estreitas, com casas simples e pequeno comércio de artesanato, disputadas por veículos leves e pesados, destacando-se a motocicleta com cabine privativa para quatro passageiros. Esse triciclo é comum e numeroso nas pequenas localidades peruanas, servindo de táxis às pessoas necessitadas de locomoção.

Para conhecermos tão exótico meio de transporte, três dos nossos companheiros e eu utilizamos um deles. Pela breve corrida, o motoqueiro nos cobrou um sol, moeda divisionária do sistema financeiro peruano.

Ao retornarmos de Ollantaytambo, almoçamos em Huayra, em excelente restaurante, nas dependências do qual, depois da boa refeição, assistimos a um show com exibição de cavalos e cavaleiros disciplinadamente treinados.

A vista é maravilhosa, com deslumbrantes cenas da Cordilheira dos Andes a emoldurar o lugar. Olhando em derredor, vimos a cadeia de montanhas desafiando as alturas. Um panorama inesquecível, fascinante e sedutor.

Deixamos o recinto relativamente fartos. Sim, mais ou menos saciados, sem fome, é verdade, mas com um gostinho de quero mais! As porções da comida, embora variada e gostosa, ficou aquém das nossas expectativas. Ou dos mais gulosos, como eu.

Ainda no dia 22 de junho de 2016, depois do almoço e de assistirmos ao show de cavalos amestrados, fomos visitar as Salineiras de Maras, um reservatório de sal natural extraído da terra desde a época pré-incaica. São mais de três mil pequenas piscinas que se enchem de água salgada, a cada três ou quatro dias, contendo 260 gramas de sal, por litro. O sal extraído naquela época era de uso exclusivo da elite cusquenha.

Na oportunidade de nossa visita às Salineiras de Maras, alguns de nosso grupo desceram as escarpas da cordilheira para conhecerem in loco mais essa dádiva da natureza ao povo peruano. Por dificuldades físicas e de locomoção, parte do grupo, dentre os quais me incluo, aguardou o retorno de nossos intrépidos exploradores.

Nesse interregno, chegaram ao platô onde nos encontrávamos à espera de nossos amigos, cerca de trinta motoqueiros pilotando seus quadricículos de cores vermelhas, em arriscada aventura pelas estreitas estradas das montanhas. Dizem tratar-se de aventureiros de outros países, inclusive de Israel.

Conhecemos Moray, local de uma plataforma circular, possivelmente construída pelos incas para aproveitamento da umidade do solo, necessária ao vicejamento das plantas. São quatro andares circulares, que, infelizmente, não se sabe quando foram edificados, presumindo-se tratar-se de empreendimento inca. Magnífica obra de engenharia!

Ali, também está estabelecida uma unidade de agricultura experimental do governo peruano. Segundo arqueólogos, existe em Moray um rio subterrâneo de águas mornas.

Nossa visita ocorreu ao final de uma tarde gelada. A temperatura era baixa, castigando nosso corpo, protegido apenas por leves agasalhos.

A certa distância, vimos a neve depositada em picos das maiores elevações da cordilheira que se nos deparava como corolário de uma bela vista. A cena era gratificante. Nem mesmo o frio intenso e o vento cortante nos dissuadiram a interromper a nossa contemplação. O adiantado da hora, também não. Tudo nos instigava a fotografá-la, repetidamente. Foi o que fizemos sem contestações. Aliás, como não fazê-lo, diante de tanto esplendor? A natureza, sabemos, é pródiga em nos embevecer com seus múltiplos encantos.

Já era noite quando retornamos a Urubamba. Mesmo assim, fizemos rápida incursão pelas ruas centrais da cidade, destacadamente pela Praça das Armas. Passeamos um pouco pela vizinhança e visitamos a Catedral onde nos deslumbramos com ricos altares, alguns revestidos a ouro, lembrando a abundância da preciosa riqueza na época colonial. A arquitetura também impressiona pela robustez de seus enormes pilares, erguidos com esmero arquitetônico.

Em sequência ao nosso périplo turístico, fomos conhecer o luxuoso hotel Tambo del Inka, excelente e moderna edificação luxuosamente acolhedora e confortável. Por certo tempo, visitamos as amplas e requintadas instalações do hotel, maravilhados com sua beleza arquitetônica e decorativa.

Ao final da visita, fomos ao Restaurante Paca Paca, estabelecido em rua próxima. Ali, saciamos a fome que nos oprimia e jogamos conversa fora por algum tempo. Tratamos de variados assuntos, inclusive a respeito da grave situação política, financeira e moral do Brasil.

De tão distante, nos condoía lembrar o que os maus políticos brasileiros fizeram ao nosso país. Ainda bem que os peruanos, nas mesas próximas, não ouviram as nossas lamentações.

Para não cansá-lo da leitura desta modesta narrativa, como costumo dizer-lhe, fico por aqui. Mas, tenha certeza, estarei de volta, proximamente.

Até breve!